Consultório Financeiro

Quais possíveis soluções para um gestor de RH?

“Sou gestor de RH e percebo que o tema Dinheiro está sempre nas discussões, pois muitos colaboradores ficam afastados por problemas financeiros. Qual o nosso papel e as possíveis soluções?”

Caco Santos, CFP®, responde:

Prezado leitor, sua questão é de extrema importância para todos os gestores, e principalmente os de RH. Diversos estudos no Brasil e no exterior comprovam que problemas financeiros são fonte constante de preocupação. Provocam distração no ambiente de trabalho, consumindo tempo e energia e diminuindo sua produtividade, o que afeta diretamente nos resultados das empresas.

A PWC realiza pesquisas anuais sobre bem-estar financeiro de colaboradores e é fonte riquíssima de informação*. Num trabalho recente, demonstrou que 46% dos colabores de uma amostra significativa alegaram ter problemas e desafios financeiros. No mesmo estudo, 70% declararam não conseguir pagar o cartão de crédito e as contas do mês. Não terem uma reserva de emergência é a principal preocupação dos colaboradores, sendo que apenas 28% sentem que poderiam cobrir despesas inesperadas (que, convenhamos, acontecem na vida de todo mundo!)

Talvez o dado mais objetivo para responder à sua questão, contudo, é que 47% dos que sofrem de stress financeiro. Responderam que faltam ao trabalho ocasionalmente e que sabem que sua produtividade é impactada significativamente por essas preocupações. Metade destes diz que gastam, durante o período laboral, três ou mais horas por semana lidando com questões de finanças pessoais.

Essa pesquisa foi realizada com empresas nos Estados Unidos, mas os dados brasileiros são piores. Pesquisa recente da Abefin mostrou que 80% dos trabalhadores têm problemas na hora de fechar seu orçamento mensal. Se considerarmos os dados da PWC como uma aproximação (mínima, portanto) qualquer gestor pode fazer sua própria conta e saber qual custo incorre todo ano com colaboradores distraídos por problemas com suas finanças pessoais. Por exemplo, calculei que uma empresa de 1.000 funcionários ganhando um salário médio de R$ 5.000 teria uma perda anual estimada de quase R$1,2 milhão.

Você questionou o que pode fazer quanto a isso. Respondo com base naquela mesma pesquisa. Foi perguntado “qual benefício do empregador você mais gostaria de ver adicionado no futuro?” e o item que aparece em primeiro lugar é bem-estar financeiro com acesso a consultores não-viesados (que não vendam produtos).

A realização de treinamentos, palestras e workshops com orientações de planejamento financeiro é um ótimo passo. A conscientização sobre itens básicos é fundamental, pois muitas vezes são desconhecidos ou esquecidos pelas pessoas. Quantos não se endividam por não controlarem seu fluxo de caixa e simplesmente terem um padrão de vida acima de sua renda? Na verdade, poucos sequer param para pensar na importância disso em suas vidas!

Conheço empresas que iniciam este trabalho com colaboradores que estejam negativados ou com comprometimento alto de seus salários por crédito consignado (que é a parte do endividamento que “enxergam”). Outras percebem que a oferta aberta a todos traz ainda melhores resultados, pois educação financeira beneficia pessoas em qualquer nível hierárquico, de renda ou patrimônio e, consequentemente, a produtividade e os resultados na empresa.

Procure profissionais gabaritados que possam desenvolver um trabalho no tamanho de sua necessidade e possibilidades. Será um investimento de alto retorno!

*acessível em www.pwc.com

Caco Santos é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 04 de maio de 2020

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