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Tesouro direto, bom e barato

Marcia Dessen, CFP®:

Enquanto vários milhões de pessoas investem na poupança, menos de dois milhões mantêm contas ativas no Tesouro Direto, um programa do Tesouro Nacional criado há 20 anos para vender títulos públicos federais para pessoas físicas.

Quais serão as razões para essa baixa adesão? Risco, uma das principais preocupações dos investidores conservadores, não é. O risco de crédito, mesmo risco de quem investe na poupança, é considerado inexistente, tanto que as aplicações em títulos públicos não precisam da garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), são 100% garantidas pelo Tesouro Nacional, sem limite.

Dizer que é caro também não justifica, não é nada caro, a taxa de custódia de 0,20% ao ano cobrada pela B3 é muito menor do que as taxas de administração dos fundos de investimento e planos de previdência. E muito menor do que o spread dos bancos, que pagam 80% do CDI em CDBs, quando poderiam pagar 100% ou mais.

Como a grande maioria dos bancos e corretoras habilitadas não cobra corretagem, o único custo do investidor é a taxa de custódia cobrada pela B3, parceira do Tesouro Nacional nesse programa. Ah, e tem ainda um incentivo para quem começa a investir: as aplicações em Tesouro Selic, um dos títulos disponíveis, só pagam taxa de custódia sobre o valor excedente a R$ 10 mil por CPF.

Vencidos os aspectos de segurança e de custo, o passo seguinte é escolher o título mais adequado ao objetivo de investimento. Será que é esse o problema? Diferentemente da poupança, que é um produto padrão, modalidade única, no Tesouro Direto os investidores encontram três tipos de título com rentabilidades diferentes. A boa notícia é que podemos escolher e diversificar, investindo um pouco em cada tipo. Entretanto, para alguns (ou muitos), talvez seja exatamente essa a dificuldade.

A poupança não tem vencimento, o investidor pode sacar a qualquer momento, embora tenha de esperar a data de aniversário para receber os rendimentos do último período. Os títulos públicos têm vencimento, data na qual o investidor recebe o valor aplicado corrigido pela taxa contratada.

O título mais básico, mais parecido com a poupança, é o Tesouro Selic, que paga 100% da taxa Selic. O vencimento mais curto disponível, 2025, pode parecer longo demais e assustar o investidor. Entretanto, a venda antecipada pode ser feita a qualquer momento, e a rentabilidade, considerando a natureza do título, será sempre positiva, igual à variação da Selic entre a data da compra e a data da venda.

Considerando Selic de 11,75%, descontada a taxa de custódia de 0,20% e o Imposto de Renda de 17,5%, em um ano o investidor receberá 9,53% líquidos. A rentabilidade da poupança será de 6,17% mais TR (próxima de zero). É provável que supere também o resultado de muitos fundos e planos de previdência. O Tesouro Selic é a melhor opção para investir os recursos da reserva financeira ou os recursos de objetivos de curto prazo.

O Tesouro Prefixado, como o próprio nome sugere, determina exatamente o valor de resgate do título na data do vencimento. A revenda antes do vencimento é sempre possível, mas o título perde valor se a taxa de mercado estiver acima da taxa de compra. Assim, invista recursos que podem esperar o vencimento. Em 27/4, o título mais curto, com vencimento em 1º/1/25, pagava taxa prefixada de 12,19% ao ano. Qual é o cenário mais favorável para investir em taxa prefixada? Quando existe a perspectiva de estabilidade ou queda na taxa de juros.

E, para quem pode investir por prazo um pouco mais longo e deseja se proteger contra a inflação, vale a pena considerar o Tesouro IPCA+, que paga a variação do IPCA mais uma taxa prefixada de juros. Em 27/4, era possível comprar Tesouro IPCA 2026, com vencimento em 15/8/2026, com rentabilidade de IPCA + 5,39% ao ano.

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 02/05/2022

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