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Vale a pena investir em ações no exterior?

Vale a pena investir no exterior? Em quais situações devemos avaliar essa possibilidade e quais são os passos a seguir?
 

Gabriel Nunes Corrêa CFP®, responde:


Antes de decidir em quais países investir e quais estratégias são adequadas ao perfil do investidor, é preciso analisar alguns pontos. Qual é o planejamento de aposentadoria desejado? Qual o objetivo de retorno pretendido? Qual o risco desejado?
Após respondidas essas questões, é possível iniciar a busca pelos ativos adequados para alcançar os objetivos de retorno, risco e diversificação.
A jornada pode iniciar pelos mercados americano e brasileiro de ações, mas é possível aplicar esse conceito técnico a outros mercados.
O mercado brasileiro de ações tem como base o índice Ibovespa (indicador de desempenho das ações negociadas na B3 que reúne as empresas mais importantes do mercado de capitais brasileiro). Esse índice encerrou o mês de maio de 2022 com 89 empresas listadas e com um valor de mercado acima de 801 bilhões de dólares.
No mercado americano, o índice de referência é o S&P 500® (considerado o melhor indicador das ações large cap dos EUA). Em maio de 2022, o S&P 500® possuía 504 empresas listadas e um valor total de mercado acima de 2,4 trilhões de dólares.
Assim, no mercado americano existem mais setores para investir e uma maior quantidade de empresas. São 504 empresas compondo o S&P 500® contra 89 do Ibovespa.
Além disso, investidor e planejador financeiro possuem mais opções no mercado americano para construir uma carteira de investimentos com ativos descorrelacionados. Quanto maior a descorrelação, menor a interdependência entre eles. Isso significa, por exemplo, que, em um momento de tormenta econômica, uma ação de uma empresa americana poderá compensar a queda de uma ação brasileira, e vice-versa.
A teoria do portfólio do premiado economista americano Markowitz defende a importância da descorrelação dos ativos e a otimização dos retornos nas carteiras de investimento utilizando a diversificação como estratégia. Markowitz utiliza a análise do risco e retorno de cada ativo dentro dos portfólios como ferramenta poderosa na escolha de ativos para as carteiras de investimento. Nas crises econômicas da história moderna, a diluição do risco na diversificação gerou menor volatilidade (risco) e manteve maior preservação do patrimônio, enquanto as carteiras menos diversificadas e com maior correlação sofreram perdas maiores e apresentaram maior volatilidade.
Em uma situação hipotética na qual o índice S&P 500® apresente uma alta de 10% e o índice Ibovespa apresente uma queda de 5%, uma carteira exposta aos dois índices terá menor perda do portfólio do que uma carteira 100% exposta ao Ibovespa. Mesmo que o percentual de participação do índice S&P 500® seja pequeno nessa carteira, a perda de patrimônio será reduzida.
Os investimentos internacionais podem contribuir, também, para a preservação de capital e o aumento da diversificação nas carteiras por não arriscarem num mesmo mercado, nos mesmos setores e nas mesmas empresas. Esses são os principais benefícios dessa classe de investimentos, porém é importante estar atento às variáveis econômicas cíclicas, tais como juros, inflação, crescimento econômico e variação cambial nos países investidos. Essa classe de ativos pode trazer volatilidade a curto e a médio prazo para as carteiras. O prazo desejado deverá ser analisado com cautela nesse planejamento.
O investidor pode iniciar no mercado internacional com diversos produtos financeiros. Entre eles estão:
·      ETFs (fundos de investimento de índices negociados em bolsa): possuem como principal vantagem o baixo custo das taxas de administração.
·      Fundos de investimento das assets: fundos de gestores independentes, amplamente distribuídos por bancos e corretoras. Representam uma alternativa acessível e exigem poucos recursos para iniciar uma jornada internacional. São ofertados com estratégias diversas por meio dos fundos de ações, multimercados e de renda fixa internacionais.
Outra alternativa disponível é abrir conta-corrente fora do Brasil sem sair do país. Porém, deve-se ter atenção aos custos de manutenção dessa conta internacional e tratamento com diligência, pois o impacto fiscal poderá gerar custos adicionais. Nesse caso, é sempre aconselhável consultar um contador para avaliar o impacto fiscal e verificar se esse é o melhor caminho para iniciar sua jornada internacional de investimentos.

Gabriel Nunes Corrêa é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial  Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail:
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Texto publicado na Revista Época em 13 de dezembro de 2022.

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