Consultório Financeiro

Vale a pena ter aplicação em dólar?

Tenho ouvido muitas opiniões favoráveis a investir em dólar. Apesar de não ter nenhuma necessidade específica, seria interessante alterar meus investimentos atuais? Não gostaria de perder a oportunidade de ter um ganho maior.

José Raymundo de Faria Jr, CFP® e Jayme Paulo Carvalho Jr, CFP®:

Caro leitor,

A sua dúvida é comum a outras pessoas neste momento e tem gerado muitas discussões acerca de possíveis ganhos com a especulação cambial. De fato, nos últimos meses, observa-se um processo de alta da cotação do dólar no Brasil. Resumidamente, esta alta ocorre por dois motivos: a) melhora da economia americana, fato que deverá provocar o início da retirada pelo Fed (banco central dos EUA) dos incentivos monetários que mantém a taxa de juros nos EUA muito baixa e b) reflexo de mudanças econômicas no Brasil, como o pleito do setor industrial por dólar mais alto; crescimento do consumo; e redução do volume de entrada de dólares no país. 

Entendemos seu desejo, afinal ninguém gosta de perder uma “boa dica”. Mas, este seu desejo pode ser explicado pelas finanças comportamentais, ramo da economia que aplica conceitos da psicologia para estudar o comportamento humano diante de decisões e que mostra que não agimos, necessariamente, de forma racional. Dois vieses (“erros”) de comportamento podem ser observados: “efeito manada”, que ocorre quando não temos informações objetivas e seguimos o que os outros estão fazendo (afinal, podemos errar, mas não sozinhos!); e “efeito saliência”, que seria a ampla divulgação desta alta do dólar, fato que potencializa o “efeito manada”. 

Para respondermos à pergunta, precisamos distinguir dois grupos de investidores. Um grupo que utiliza o câmbio na alocação de portfólio com o objetivo de proteger o seu poder de compra em moeda externa, ou seja, seguindo uma estratégia consistente de alocação de longo prazo. E um outro que não precisa aplicar em câmbio, como é o seu caso, leitor. Para esse grupo, aplicar em câmbio também deve ser considerado como oportunidade de investimento, desde que com muito cuidado e limitado a um pequeno percentual do portfólio. 

É importante comentar que o diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos ainda é alto, em torno de 8% ao ano, ou seja, para empatar com o CDI, o dólar precisa subir consistentemente 8% ao ano. Por mais que o ganho tenha ultrapassado esse percentual nos últimos meses, será que vai continuar assim? E, se sim, por mais quanto tempo? 

Como não há resposta para essas perguntas, as aplicações em fundo cambial ou em contratos futuros na BM&F tendem a gerar muitos riscos. O fundo cambial compra papéis indexados ao dólar e que rendem uma determinada taxa de juros. Assim, além do risco da taxa de câmbio, há o efeito da marcação a mercado dos seus papéis, o mesmo efeito que afeta os fundos prefixados no Brasil. No caso dos contratos futuros, o risco é maior devido aos ajustes diários, positivos ou negativos. 

Entendemos que para os que pretendem se beneficiar da alta do dólar, a melhor forma é via uma carteira diversificada, aquela que investe em vários ativos e que tem gestão profissional. Assim, os fundos multimercados são ótimos instrumentos: podem alocar em diversas classes de ativos e, quando o gestor percebe uma oportunidade de ganho em câmbio, faz alocação diretamente em dólar e em vários outros ativos que podem de alguma forma participar da valorização do dólar, como ações de empresas exportadoras e títulos de renda fixa e de inflação, que irão refletir os efeitos secundários de uma desvalorização cambial. 

Buscar um profissional de investimento para discutir os motivos da aplicação em dólar e entender o seu perfil de risco são passos fundamentais. Nada de tentar “seguir a manada”!

José Raymundo de Faria Jr e Jayme Paulo Carvalho Jr são planejadores financeiros pessoais e possuem a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para : [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 02 de setembro de 2013

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