Seu Planejamento Financeiro

Vale a pena vender meu carro para andar de táxi e Uber?

Hellen Vidal, CFP®, responde:

Caro leitor,

É importante analisar os gastos envolvidos nas alternativas de transporte, que não são poucos ao escolher pelo carro: IPVA, seguro, estacionamento, depreciação, manutenção, combustível e até mesmo o custo de oportunidade envolvido.

Vamos calcular as estimativas de custos anual tomando-se por base um carro 0 km, bastante vendido no Brasil, com câmbio manual, com o preço de tabela de aproximadamente R$ 44 mil. Rodando 50 km por final de semana, durante 1 ano (52 finais de semana), 2.600 km, teremos:

– R$ 1.760 de IPVA. São Paulo e Rio de Janeiro para carros de passeio com motor flex recolhem 4% sobre o valor venal do veículo.

– O licenciamento, documento que autoriza a circular com o automóvel, gira em torno de R$ 100,00. Conduzir veículos sem licenciamento gera multa de quase R$ 300,00.

– Custo com o seguro em torno de R$ 3.100. Segundo a TEx, empresa que compara cotações de 17 seguradoras, a cobertura pode variar até 140% dentro de São Paulo.

– R$ 5.200 de estacionamento. Segundo pesquisa da Cuponation (plataforma de descontos online) você vai gastar pelo menos R$ 10,00 por hora nos principais bairros. Considerando 10 horas por final de semana, teremos 520 horas – supondo que já possui uma garagem em sua residência.

– Uma lavagem por mês deve consumir cerca de R$ 40, logo R$ 480,00 no ano.

– R$ 4.840 com a depreciação. Ao deixar a concessionária, os carros 0 km já começam a perder o seu valor. É preciso estar atento a essa desvalorização e saber quais modelos são mais ou menos afetados. A desvalorização gira em torno de 11%.

– Gasto com combustível em torno de R$ 846,00. O consumo com gasolina é de 12,9 km/l na cidade, ou seja, para cada litro, andamos 12,9 quilômetros. Considerando que irá rodar 2.600 km no ano, temos o consumo de 201,55 litros e considerando o preço da gasolina em torno de R$ 4,20. Para tirar o máximo de proveito do seu combustível, dirija entre 50 e 90 km/h. Você não apenas irá ter menores gastos com combustível, mas também irá aumentar a vida útil do seu veículo e de suas peças.

– R$ 220 com a revisão, considerando que deve ser feita no final do primeiro ano ou aos 10.000 km, o que ocorrer primeiro. Nesta revisão os itens trocados são: filtro de combustível, filtro de óleo, óleo do motor, anel de vedação do bujão do cárter.

O custo de oportunidade, juros que conseguiria obter se investisse esse dinheiro em vez de gastá-lo no carro, seria em torno de R$ 5.853. Considerando a SELIC (taxa básica de juros da economia brasileira) de 6,5 % a.a., imposto de renda de 17,5 % sobre o rendimento, o custo da taxa cobrada pela custódia dos títulos de 0,30% ao ano sobre o valor investido e considerando um aluguel mensal de R$ 300,00 da garagem caso não escolha ter um carro. Logo, o custo total anual com o carro gira em torno de R$ 22.399 (R$ 1760 + R$ 100,00 + R$ 3.100 + R$ 5.200 + R$ 480,00 + R$ 4.840 + R$ 846,00 + R$ 220 + R$ 5.853).

Lembrando que todas as variáveis podem ser personalizadas e um fato importante que também deve ser levado em conta é a possibilidade de sinistros e multas.

Ao optar em utilizar o Uber X, o preço médio de uma corrida de 25 km, distância por exemplo da Av. Paulista até Guarulhos, ficaria em torno de R$ 80,00. Logo, gasto total com Uber em torno de R$ 8.320. Veja que economizaria R$ 14.079 por ano.

De quebra, você pode usar o tempo de deslocamento para colocar a leitura, anotações e telefonemas em dia. Nessas horas é importante lembrar, seu tempo também vale dinheiro! Não precisaria mais de levar o carro à oficina ou passar no posto para abastecer e lavar. Além de ter uma atitude mais sustentável por ter menos um carro poluindo o meio ambiente.

Não deixaria de lado a possibilidade de utilizar o transporte público por ser a alternativa mais barata. A cidade de São Paulo tem uma abrangência de linhas de metrô, trem e ônibus.

Portanto, do ponto de vista financeiro, entre ter um carro ou andar de Uber, a segunda opção é a melhor, sendo uma boa ideia vender o seu carro. Mas, se mesmo assim você vê em um veículo próprio a autonomia que não consegue ter sem ele e está decidido a ficar com o carro, vale a pena analisar a opção de disponibilizá-lo em plataformas de compartilhamento de carro enquanto não estiver usando. Apesar de a ideia parecer estranha no primeiro momento, o compartilhamento de carros vem crescendo nas grandes cidades e possibilitando que o carro, ao invés de ficar parado na garagem onde é apenas um gasto, vire uma renda extra.

Hellen Vidal é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site EpocaNegocios.globo.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 05 de dezembro de 2018

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