Consultório Financeiro

Vale comprometer todo o capital em um imóvel?

Moro de aluguel, meu contrato venceu e o proprietário quer reajustar o valor. Considerei muito alto e estou pensando em comprar um imóvel. No entanto, se seguir em frente, vou imobilizar praticamente todo meu patrimônio. Vale a pena financiar a aquisição?

Luciano Teixeira Pinheiro, CFP®, responde:

Caro leitor, a resposta depende da análise de outros fatores como: sua renda, sua capacidade de poupança, suas necessidades e projetos de curto prazo, e até de aspectos subjetivos. 

Com relação à contratação de financiamento imobiliário no atual cenário, fato é que, além da visível sobrevalorização do preço dos imóveis, a recente e possivelmente contínua escalada dos juros pode representar um segundo e pesado ágio a se pagar na aquisição da casa própria. E é importante ressaltar que o pagamento de juros significa perda real de renda. 

Por outro lado, imobilizar quase que a totalidade do seu capital irá refletir em uma maior restrição orçamentária e, inclusive, na falta de recursos para cobrir emergências ou imprevistos no curto prazo. 

Contudo, isso pode ser contornado se sua renda for alta e se você tiver condições de fazer uma boa poupança mensal. Imprevistos são menos frequentes do que a chegada dos boletos de aluguel e, pensando sob esse prisma, a obtenção de um pequeno empréstimo para cobri-los pode sair bem mais em conta do que os juros a se pagar em um financiamento imobiliário. 

Outra alternativa é tentar conjugar o financiamento da casa com uma possível capacidade de poupança mensal, utilizando esta última para amortizar o seu financiamento sempre que possível e, assim, reduzindo significativamente os juros e o prazo do financiamento imobiliário. 

Da mesma forma, também podem ser utilizados, na amortização, os créditos excepcionais, como férias, 13º salário, abonos, participação nos lucros, bonificações, restituição de imposto de renda etc. 

Importa salientar que, em grande parte dos casos, não será um bom negócio comprar um imóvel às pressas. Imobilizar quase que a totalidade dos seus recursos, causando um alto impacto financeiro nas suas reservas, é uma decisão que precisa ser bem pensada e, por isso, é preciso fazer uma boa escolha pesquisando o máximo de opções que existem nesse mercado e que possam atender às suas necessidades. 

Por esse ângulo, se o proprietário desejar aumentar de imediato o valor do aluguel e você estiver realmente decidido a comprar a casa própria através do financiamento imobiliário, o ideal é pactuar a renovação do contrato por prazo indeterminado para que, assim que encontrar o imóvel que deseja, você possa rescindir o atual contrato de aluguel sem sofrer o ônus do pagamento das multas contratuais por rescisão antecipada. 

Com a renovação do contrato por tempo indeterminado, você ganha fôlego para procurar e avaliar não só as melhores opções em termos de imóveis como também para solicitar análise de crédito perante diferentes bancos e, junto a esses, estudar a melhor opção de financiamento. 

Em tempo, vale lembrar que, considerando a existência de eventual saldo de FGTS, esse poderá ser utilizado tanto para entrada na compra do imóvel, reduzindo a necessidade de complementação do valor do imóvel com a obtenção de empréstimo, bem como seus créditos posteriores poderão ser utilizados na amortização do saldo devedor do financiamento imobiliário.

Luciano Teixeira Pinheiro é planejador financeiro pessoal e advogado, e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jrona Valor Econômico em 16 de dezembro de 2013

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