Consultório Financeiro

Vender a casa e aplicar em opções de ações é bom negócio?

Tenho 35 anos, casado, dois filhos, renda de R$ 4 mil e um apartamento quitado no valor de R$ 140 mil que terei que vender para comprar outro maior. Estive numa corretora para avaliar algumas opções de investimento, pois queria investir este valor durante cinco anos e pagar aluguel durante este período (aluguel em torno de R$ 600 a R$ 700) ou por mais tempo, uns dez anos. Foi-me oferecido um investimento chamado financiamento de opções, que me pagaria uma taxa de 1,5% a 2% ao mês e que durante os cinco anos daria algo em torno de R$ 264 mil investindo R$ 100 mil. Dos outros R$ 40 mil, seriam aplicados R$ 20 mil em ações da empresa OGX e os outros R$ 20 mil iriam para cobrir despesas e pagamentos de dívidas que tenho. Gostaria de saber se esta é uma boa estratégia de investimento e também se morar de aluguel é uma boa opção para poder investir todo o valor obtido com a venda do imóvel que tenho. (R.H.)

Carolina Ciarlini Giovanella, CFP®:

Quando tratamos da escolha de um investimento, é fundamental uma análise ampla e em conjunto de fatores como natureza do investimento, perfil do investidor, objetivos de retorno e riscos envolvidos. A análise, somente pela ótica de retorno, além de simplista, pode resultar em posições que assumam riscos desproporcionais à capacidade do investidor e que possam se desviar do propósito do investimento, inclusive colocando em risco o patrimônio ou a tranquilidade financeira de uma família.

Especialmente no caso aqui trazido, no que se refere à natureza do investimento, é importante ponderar que se trata de um recurso proveniente da venda da casa própria, o que nitidamente exige uma modalidade que prime pela conservação do “principal”. Quanto à opção pelo aluguel, olhando somente sob o ponto de vista financeiro, realmente seria a melhor alternativa. Confrontando o custo de oportunidade de aplicação em um ativo teoricamente livre de risco que, atualmente, pagaria algo em torno de 0,9% ao mês, com um custo de aluguel em torno de 0,5% ao mês, a opção pelo aluguel torna-se mais atrativa do que a imobilização do valor.

No que se refere ao perfil de investidor, é importante estar atento à capacidade de tomar riscos. Ainda que pela faixa etária o investidor se encontre na fase de acumulação, não podemos desconsiderar o fato de que o mesmo possui uma estrutura familiar com dependentes, uma única fonte de renda e uma situação de endividamento. Nesse sentido, modalidades que incorram em muita volatilidade não se tornam boas alternativas, tendo em vista que, fora o fato de exigirem maior prazo de investimento (menor liquidez), podem levar o investidor a perdas que a estrutura de capital dele não suportaria.

Com relação a operações de financiamento de opções, é importante destacar que, ainda que se tratem de operações de taxa, deve-se estar atento a dois fatores fundamentais que não foram apresentados ao cliente. Primeiro, trata-se de uma modalidade em que não há garantia de retorno, e segundo, ainda que seja uma posição com risco teoricamente travado, há possibilidade real de comprometimento do principal.

O foco da montagem da estratégia deste portfólio não deve estar somente em renda variável. Há de se ponderar que o valor provém da venda da casa própria e que está atrelado a um compromisso futuro, sendo a manutenção do principal condição primordial. Ademais, deve-se estar ciente que, fora a situação de endividamento, a estrutura financeira montada deve oferecer segurança mínima, que não deixe o cliente desprotegido frente a eventuais contratempos como perda de emprego ou doença inesperada.

Em suma, a minha sugestão para esse cliente seria a montagem de um portfólio diversificado, com 70% de renda fixa, e o restante em fundos multimercado e ações (não mais do que 10%) e, neste caso, as operações de financiamento poderiam ser uma opção. Com esta montagem, o cliente contaria com uma estrutura de investimento rentável, com liquidez suficiente para honrar dívidas e contratempos, sem ter que pagar um alto custo de exposição a risco que, em última analise, dada a estrutura de capital do cliente, não seria o mais aconselhável.

Carolina Ciarlini Giovanella, CFP®, é Planejadora Financeira Pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros

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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 2011.

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