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O que é BDR e ETF? É uma boa ter na minha carteira?

Vi uma notícia recente falando que existem novos BDRs de ETFs na Bolsa. Mas, afinal, o que é BDR? E o que é ETF? É uma boa ter na minha carteira?

Ernesto Leme CFP®, Responde:

O Brasil passa por uma mudança estrutural no universo de investimentos. A queda acentuada da taxa de juros, de um patamar de 14% a.a. ao fim de 2016 aos 2% a.a. atuais, tornou o investimento em renda fixa pouco atraente e levou o investidor brasileiro a buscar alternativas com maior potencial de retorno. Uma evidência desse movimento foi o aumento da participação de investidores individuais na B3, que saltou de 800,000 indivíduos em 2018 para mais de 3 milhões no final de 2020.

O mercado acionário brasileiro é bastante concentrado, tanto em relação ao número de empresas listadas quanto à exposição setorial, limitando as oportunidades de investimentos. Por exemplo, o índice Bovespa possui uma exposição menor do que 2% ao setor de tecnologia. Em comparação, no índice americano S&P 500 esse percentual chega a 27%, lembrando que o setor de tecnologia é considerado por muitos analistas como um dos mais promissores. Para participar das oportunidades existentes nos mercados internacionais, existem algumas opções e uma delas é a compra de BDRs de ETFs, uma alternativa para a diversificação de uma carteira de investimentos. Mas o que são BDRs e ETFs?

BDRs ou Brazilian Depositary Receipts são certificados de depósito, emitidos e negociados no Brasil, com lastro em ativos de emissão de companhias estrangeiras. Na prática, quando um investidor compra um BDR da Apple, por exemplo, ele está comprando ações da empresa, num processo simples e na própria B3. Não há necessidade de se abrir uma conta no exterior nem fechar um contrato de câmbio.

ETFs, Exchange Traded Funds ou fundos negociados em bolsa são um dos mais importantes produtos criados para investidores pessoa física nos últimos anos. ETFs são uma cesta de ativos que pode ser comprada ou vendida através de uma corretora num mercado de bolsa. Os ETFs começaram a ser difundidos em 1993 e estima-se que hoje existam mais de 2,100 ETFs apenas nos Estados Unidos.

 No Brasil, o acesso a ETFs internacionais é possível através da B3. Hoje existem 39 ETFs listados no formato de BDRs. Quando um investidor compra um BDR de ETF, ele passa a ter um ativo lastreado no ETF de referência. A compra de um BDR do índice S&P 500, por exemplo, proporciona ao investidor uma exposição a 500 empresas americanas, líderes em seus setores de atuação.

 O investidor brasileiro, quando comparado a outros investidores nos mercados globais, investe muito pouco em renda variável e uma parcela ainda menor em mercados internacionais. O acesso a esses mercados permite acesso a temas de investimento ainda incipientes no mercado doméstico além de proporcionar maior diversificação, uma vez que muitos ativos no exterior são muitas vezes descorrelacionados dos ativos locais. 

A regulação brasileira restringe a listagem de BDRs de ETFs na B3 ao volume que esse ativo é negociado diariamente no país de emissão. Atualmente, apenas ETFs que apresentam um volume diário de negociação superior a 5 milhões de dólares se qualificam para serem listados na B3. 

A negociação de BDRs vem aumentando significativamente. Dados recentes da B3 apontam que o volume total de BDRs negociados em 2020 foi superior a R$ 23 bilhões, contra pouco mais que R$ 5 bilhões em 2019. O aumento na participação de pessoas físicas no mercado também é notável. Em 2019 elas foram responsáveis por cerca de 4% do volume, contra quase 20% em 2020. Em outubro de 2020, nova legislação entrou em vigor, removendo a obrigatoriedade do investidor ser qualificado ou profissional para a compra de BDRs, o que contribuiu para o aumento de liquidez do mercado. Dentre os BDRs com maiores volumes estão os de empresas como Apple, Tesla, Amazon e Microsoft. Movimento semelhante acontece no mercado de ETFs onde o volume diário negociado nesse ano mais que dobrou em comparação com o ano passado.

Dependendo do perfil do investidor, seu horizonte de investimento e tolerância ao risco, poderá ser uma boa ter BDRs de ETFs na carteira de investimentos. A simplicidade desse investimento, o aumento da educação financeira do investidor local aliada e uma busca por maior diversificação certamente continuarão a colaborar para um crescimento ainda maior nesse mercado.

Ernesto leme é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 15 de fevereiro de 2021

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