Gestão de ativos: águas turbulentas

Os juros básicos nos menores níveis no país vão mostrar ao mercado quem são os profissionais mais capacitados para a gestão de ativos e a busca por maiores retornos em ambientes de risco

O momento é único no mundo e, principalmente, no Brasil. A crise sanitária causada pela disseminação do novo coronavírus trouxe uma queda brusca na produção e na renda e, por consequência, medidas protetivas dos bancos centrais na tentativa de reduzir o impacto na economia. Aqui, a taxa básica de juros já vinha em queda e, devido à Covid-19, foi levada à mínima histórica jamais imaginada pelos participantes do mercado. Diante desta situação, a tradicional rentabilidade fácil virou coisa do passado.

“Em crises passadas, o pior cenário para o investidor era ficar no CDI e ganhar seus 10, 15 ou 20%. Era muito fácil ter retorno interessante no Brasil”, lembra Giuliano De Marchi, diretor do JP Morgan Asset Management para América Latina. Mas, segundo ele, agora o investidor foi exposto a uma situação de volatilidade altíssima onde não há onde se proteger da exposição ao que há de melhor ou pior no mercado. “O advisory, o planejamento, o aconselhamento de investimento, além do gestor e o asset management corretos vão fazer total diferença nas carteiras”, afirma.

De Marchi acredita que o planejador financeiro será como o personal trainer ou o médico da família em um futuro próximo. “Você vai ter o cara que vai começar a te entender e será consultado para um diagnóstico de sua situação financeira para a realização de sonhos e até de sua aposentadoria. Ele será procurado a cada seis meses e você pagará uma consulta que não será barata, mas considerada importante porque vai tratar do seu futuro”.

Um mercado com mais demanda e, por consequência, maior concorrência entre os profissionais de gestão de ativos. Esta é a visão de Luiz Sorge, CEO da BNP Paribas Asset Management do Brasil. Ele acredita que estamos vivendo uma situação similar à de guerra, com a vantagem de não termos os problemas de ameaças de desabastecimento e de falta de infraestrutura que, em geral, ocorrem durante um conflito armado. “Há uma preocupação em manter o grau de solidariedade e comprometimento por mais tempo. Mas, pela perspectiva da atividade, o nível de competitividade aumenta porque todo mundo quer manter as suas posições, sejam os profissionais ou as gestoras”, afirma.

“A certificação CFP® como uma distinção e não como uma licença passou a fazer a diferença ao profissional”

O cliente vem demonstrando grande ansiedade em relação à manutenção do capital nestes tempos de pandemia de Covid-19 e cabe ao gestor levar tranquilidade para ele, além de apresentar as possibilidades de ganhos em meio ao caos da crise sanitária que deve resultar na maior recessão global da história da humanidade. “Estas situações também geram oportunidades de curto, médio e longo prazos”, pondera Sorge. Antigamente, quando falávamos em planejamento financeiro pensávamos apenas em investimentos, em ativos. O planejamento financeiro como um todo era ofuscado por uma elevadíssima taxa de juros. Entretanto, mesmo antes da pandemia, o executivo já percebia o mercado demonstrando amadurecimento de estruturas e agentes para atender as pessoas de uma maneira mais holística, não só em relação ao investimento, mas à sua vida financeira como um todo. Agora, a atual conjuntura exige, além da incorporação de mais ferramentas virtuais, maior esforço individual, coletivo e corporativo de eficiência e capacitação. “A certificação CFP® como uma distinção e não como uma licença passou a fazer a diferença ao profissional”, afirma. “O planejador financeiro começa a ser percebido como tal e deverá ser mais demandado daqui pra frente. Para conseguir atender essa demanda, o planejador deverá buscar a constante atualização do seu conhecimento, através do programa de Educação Continuada”.

A busca não só por investimentos mais rentáveis, mas também por oportunidades no exterior será a realidade do planejador financeiro de acordo com Marcus Vinícius Gonçalves, diretor-presidente da Franklin Templeton no Brasil. Com a Taxa Selic no menor nível histórico no Brasil, mercados internacionais podem oferecer mais vantagens e o profissional precisa estar atento às alternativas de ganhos aos clientes. “O investidor que aposta hoje em comprar um título público pagando 3% ao ano bruto pode perder para a inflação com certeza, e vai ficar negativo. Ele precisa se mexer para outras coisas”, explica.

Gonçalves conta que a Franklin Templeton vem fazendo um grande esforço junto aos órgãos reguladores e a entidades de classe como a Planejar, a Anbima e a CFA Society, no sentido de mostrar a importância de expansão do escopo dos investimentos para o exterior. “O brasileiro precisa abrir um pouco mais a cabeça para começar este investimento fora do país porque, desta maneira, ele consegue combinar interessantes retornos com redução de risco”, afirma.

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