Muito além dos muros do lar

A pandemia de Covid-19 impõe desafios a mais para os gestores de family offices. Eles precisam cuidar não só do patrimônio, mas também da saúde dos negócios de seus clientes

Acolhimento é um termo que poderia soar piegas em qualquer segmento do mercado de capitais não fosse um contexto gerador de extrema insegurança que tem sido a pandemia do novo coronavírus no mundo. Este suporte é a principal especialidade dos escritórios de gestão de patrimônio familiar, também conhecidos como family offices. O aconselhamento e a tranquilidade de uma boa consultoria nunca foram tão solicitados. “Nós temos condição de identificar quais são as inseguranças, as vicissitudes e tudo o que ocorre dentro de uma família num momento como este”, explica Luiz Borges, sócio-fundador da Consenso Aconselhamento Patrimonial.

Neste caminho, a união com o UBS, consolidada em 2017, teve fundamental importância. “Nossa operação internacional hoje não tem nem 10% com o UBS, mas estamos usando toda a expertise deles e a visão global de maneira muito eficiente”, revela Borges.

E, uma vez estabelecida a facilidade de acesso do cliente à consultoria, vêm as dúvidas e temores. A forte instabilidade econômica, política e social sem precedentes no mundo gera uma grande insegurança que precisa ser prontamente aplacada pelo gestor. Ele é o profissional capacitado para enfrentar, junto com a estrutura da instituição que representa, situações adversas de mercado. A experiência e o talento deste conjunto podem, inclusive, oferecer vantagens e oportunidades de ganhos em momentos de crise.

O aconselhamento patrimonial tem recebido maior participação da família neste período de quarentena. De acordo com Borges, no passado, era quase impossível reunir pais e filhos. Hoje, as conversas por vídeo conferência ganham mais engajamento. “Os filhos estão em lugares diferentes do mundo e, agora, basta combinarmos um horário para reuniões não só sobre investimentos, mas também para conversas mais profundas sobre administrar liquidez, longevidade e legado para o futuro”. Outro despertar foi para a filantropia. Muitas famílias têm buscado orientação sobre como realizar doações de maneira eficiente para ajudar as pessoas e instituições mais necessitadas durante a pandemia. “Nos deu um trabalho enorme, mas foi muito gratificante”, revela Borges.

“Qualificação profissional é o nome do jogo. Quem não tem vai ficar no meio do caminho”

Para Mari Emmanoulides, presidente e sócia-fundadora da Taler Gestão de Patrimônio, o momento exige dos agentes do mercado um alto grau de capacitação. “Qualificação profissional é o nome do jogo. Quem não tem vai ficar no meio do caminho”, explica.

Do ponto de vista do cliente de um family office, a conquista de tranquilidade para o futuro está diretamente ligada à habilidade do planejador financeiro e, para isso, a orientação adequada é fundamental. “Cada vez mais esse conceito de planejamento vai estar na cabeça e na necessidade das pessoas. É o que acontece nos países de primeiro mundo”, afirma. Os escritórios da Taler precisaram de apenas dois dias para implantar o home office assim que o período de quarentena foi determinado no Brasil, em março. Isso foi possível graças a um bom desenvolvimento tecnológico tanto para telefonia, quanto de sistemas, implantado ao longo de 15 anos de atuação no mercado. “Quando aconteceu o evento, estávamos preparados. E os clientes que gostavam mais do atendimento presencial também precisaram se adaptar”.

No futuro pós-pandemia, Mari não acredita que a comunicação por videoconferência deva continuar com a mesma intensidade. “Trabalhamos com um cliente de nível alto que demanda e precisa de um olhar e uma atenção mais próximos”, afirma. No entanto, ela acredita que a realidade da digitalização no mercado como um todo deve, sim, se consolidar como tendência. As plataformas online foram o canal de comunicação com as famílias que possibilitou transmitir a elas a segurança necessária em relação ao seu patrimônio durante as fortes oscilações nos preços de ativos durante a crise. “Se você tem bons ativos, não há o que temer. Se você não vai vendê-los para obter liquidez, basta ter a paciência e a resiliência de esperar e surfar este momento da melhor maneira possível”, afirma.

O impacto maior, segundo Mari, tem sido nas empresas dos clientes e, por isso, a consultoria de family office tem ido além durante a pandemia. Ela explica que existem os clientes mais preparados e que já fizeram o IPO da companhia e vivem deste patrimônio. No entanto, há aquele que tem seu negócio muito afetado, seja uma indústria, uma grande prestadora de serviços ou escritório de profissional liberal. “O nosso trabalho também avança no sentido de governança, reestruturação e, se necessário, temos parceiros para ajudar neste sentido”.

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