Aposentadoria: desafios atuais e estratégias

A aposentadoria apresenta-se como uma das maiores preocupações que o cidadão comum pode ter ao longo de sua vida juntamente com os temas saúde e educação. Por outro lado, diversos estudos relacionados à área de Ciências Sociais conferem à aposentadoria a ideia de liberdade como algo naturalmente previsível, quando, neste momento de vida, o indivíduo poderá descansar e fazer somente o que deseja. Entretanto, para que isto seja possível, Vitorino (2017) cita a necessidade em se conquistar dois capitais ao longo da vida: o familiar e o financeiro.

Neste sentido, planejar a aposentadoria de um indivíduo, atualmente, constitui-se como um dos maiores desafios dentre os seis pilares que norteiam o escopo de atividades do planejador financeiro. No Brasil, especialmente, alguns fatores justificam esta percepção, entre os quais:

• Maior longevidade da população: O brasileiro viverá mais e isso é uma ótima notícia. Entretanto, do ponto de vista financeiro, exigirá maior reflexão e mudança de atitude, pois a necessidade de preparação financeira para garantir uma qualidade de vida adequada aos seus objetivos na melhor idade será muito maior do que fora na época de nossos avós.

• Reforma previdenciária: Com a finalidade de reduzir o déficit financeiro e atuarial do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), o governo realizou alterações em regras que afetam de forma direta a sociedade, entre as quais o aumento para a idade média de aposentadoria e em relação ao modelo de cálculo do valor de benefício.

• Ausência de educação financeira e previdenciária: O brasileiro médio ainda vê sentido em esgotar o seu salário consumindo (crente na promessa do Estado de manutenção de sua renda na aposentadoria), criando uma relação de dependência. Conforme Brito e Minari (2018), trata-se de um plano ingênuo, pois não oferece nenhuma forma de garantia contra dificuldades fiscais ou preservação dos fundos sob responsabilidade do INSS.

• Taxa de juros: O atual cenário com a taxa básica de juros (Selic) em sua mínima histórica de 2% ao ano e perspectiva de sua manutenção em patamares menores, quando comparado a um passado não tão longínquo, fará com que o indivíduo reavalie sua forma de investir.

A aposentadoria apresenta-se como uma das maiores preocupações que o cidadão comum pode ter ao longo de sua vida.

Ao considerar estes apontamentos, quero convidar você a uma breve reflexão (sem a pretensão de esgotar o assunto) sobre qual deve ser o foco da estratégia individual de investimento com o objetivo de aposentadoria.

O professor Robert C. Merton (2014) discorre sobre o grave risco de colocar decisões complexas de investimentos (como é o caso da aposentadoria) nas mãos de pessoas com nível de conhecimento financeiro restrito ou nulo.

Para ele, um grande problema é o fato de que as decisões de investimento para os modelos de contribuição definida (CD) são tomadas com o objetivo de maximizar a rentabilidade com o menor risco possível e ajustadas ao perfil de risco financeiro do indivíduo, e não ao nível de risco da renda que ele necessita para viver com tranquilidade durante sua aposentadoria.

É justamente neste ponto em que se concentra mais um desafio: como alinhar a expectativa de renda necessária ao indivíduo, a taxa de retorno requerida para alcançar este objetivo e o seu perfil de tolerância ao risco financeiro?

Nesta direção, Oliveira (2014) propõe o conceito de uma estratégia de investimento com foco no nível de renda por meio de um modelo de plano de aposentadoria com um “Target Flexível”, ou seja, investimento e benefício mensal com autoajuste ao nível de renda necessário.

O modelo proposto por ele visa capturar os eventos financeiro-patrimoniais ao longo da vida, como variações na renda e realizações de projetos de vida de forma automática, além de realizar o ajuste do investimento necessário para manter a alta probabilidade de se atingir a renda desejada.

Dessa forma, as estratégias de investimentos com o objetivo de renda propostas por Oliveira (2014) são:

Estratégia nº 1

Renda para aposentadoria com dignidade (despesas básicas com alimentação, moradia, vestuário e saúde): aqui, os investimentos devem oferecer a menor volatilidade possível na renda, além de manter a existência desses recursos para um período maior que a expectativa de vida do indivíduo.

Estratégia nº 2

Renda para aposentadoria com conforto (alimentação mais cara, plano de saúde com padrão de conforto melhor etc.): os investimentos devem apresentar maior volatilidade, para que a probabilidade de alcançar e manter este objetivo seja alcançada.

Estratégia nº 3

Renda para a manutenção do padrão de vida (gastos com viagens, restaurantes, troca de carro, casa de campo etc.): aqui, o patrimônio acumulado ao longo da vida (imobilizado e artigos de luxo) deve servir de fonte de recursos para a acumulação de reservas, oferecendo a possibilidade de ajuste do risco à renda.

Certamente que estudos aprofundados com ampla discussão sobre o tema são necessários com a participação de planejadores financeiros, instituições financeiras, órgãos reguladores e acadêmicos no diz respeito à sua viabilidade e à forma de implementação junto à população.

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