Consultório Financeiro

Aos 70 anos, vale a pena adquirir plano de saúde?

Meu nome é Tadeu, tenho 70 anos, sou divorciado, com três filhos independentes. Tenho uma vida tranquila – apartamento próprio, alguns terrenos, aplicações em renda fixa e ações, resultado de um trabalho estável e de muito equilíbrio. Sou aposentado e recebo, além do INSS, complementação de aposentadoria do fundo de pensão do meu ex-empregador. Minha renda mensal é suficiente para as minhas despesas e consigo poupar recursos mensalmente.

Com a aposentadoria passei a não ter mais o plano de saúde da empresa – e aí reside a minha grande dúvida. Fiz algumas contas e verifiquei que gasto em torno de R$ 2 mil por ano com saúde e que se fizer um plano de saúde ele custará em torno de R$ 20 mil anuais – ou seja, multiplicarei por dez a minha despesa. Como tenho uma ótima saúde, acho que essa despesa é desnecessária, especialmente considerando que, se precisar, tenho dinheiro para pagar as despesas médicas e que, com esse custo, diminuirei minha poupança mensal. Meus filhos não concordam com a minha análise e têm insistido muito para que eu faça um plano de saúde.

Maria Angela Nunes Assumpção, CFP®:

Caro Tadeu, um dos pilares para um bom planejamento financeiro é avaliar os riscos que corremos e, sem dúvida nenhuma, um grande risco que todos nós corremos é o de adoecer. Por mais que façamos acompanhamentos médicos, exercícios físicos, boa alimentação, ninguém está livre de ter um problema de saúde, fazer exames, precisar de uma internação. E nesses momentos é muito importante para nós mesmos e para nossa família que possamos nos tratar da melhor forma que a gravidade da situação exija.

Infelizmente, se quisermos ter um atendimento de qualidade não podemos contar com a saúde pública. A capacidade de atendimento na rede pública é limitada, precária e subdimensionada para as enormes carências existentes. Esse quadro tem levado a que cada vez mais indivíduos e famílias recorram ao atendimento médico e hospitalar privado, arcando com os custos a eles inerentes. De acordo com dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o percentual da população coberta por plano privado de saúde passou de 18% em 2003 para 24,6% em 2011.

Portanto, por mais que tenhamos uma excelente saúde, quando não temos mais a cobertura de um plano empresarial (como é o seu caso) e se não quisermos ficar na dependência da precariedade do atendimento público, temos que nos conscientizar de que, de uma maneira ou de outra, pagaremos pelos custos dos serviços privados, seja por meio da contratação de um plano/seguro saúde ou arcando com as despesas diretamente.

E aí está o grande risco da sua decisão entre ter ou não um plano/seguro de saúde. Aliás, mais do que isso: ter um plano de saúde/seguro adequado que cubra especialmente o enorme risco das despesas de uma internação hospitalar.

Ter um plano de saúde adequado significa mais do que o conforto de um bom atendimento, significa também reduzir um risco financeiro que é assimétrico. Explicando melhor: se você optar por fazer um plano/seguro saúde arcará com um custo que será conhecido previamente – por exemplo, R$ 20 mil ao ano – e poderá se organizar para pagá-lo, além de conhecer exatamente o que estará sendo coberto ou não pelo plano/seguro que você contratar. Por outro lado, decidir não ter um plano de saúde significa – se, por infelicidade, algo de grave ocorrer – ter que arcar com um custo que você não conseguirá previamente dimensionar nem limitar, podendo comprometer fortemente o seu patrimônio. Uma semana de internação no CTI de um bom hospital com certeza custará mais do que os R$ 20 mil anuais.

Portanto, caro Tadeu, concordo com os seus filhos e recomendo que você verifique qual o plano/seguro saúde é mais adequado as suas necessidades e proteja-se o quanto antes do risco que você está correndo.

Maria Angela Nunes Assumpção é Planejadora Financeira Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 19 de março de 2012.

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