Casa própria, um sonho possível
Marcia Dessen, CFP®:
Comprar a casa própria, ter uma casa para chamar de sua, é o sonho de muita gente. Muitos não realizam o sonho por imaginar ser impossível e desistem, sem nem ao menos tentar.
Ninguém acorda, um dia, e diz: “Hoje, vou comprar uma casa”. É preciso haver muito planejamento e conquistas intermediárias que nos levarão ao objetivo final.
São possíveis os sonhos difíceis, que nos tiram da nossa zona de conforto, que exigirão esforços nada pequenos, mas possíveis. Para encarar o desafio, desdobre o sonho em etapas.
Assim como a maioria das pessoas, José não tem dinheiro para comprar um imóvel à vista. A aquisição será feita com a contratação de um financiamento imobiliário. Como o banco não financia 100% do valor do imóvel, ele precisa dispor da entrada, entre 20% e 30% do preço do imóvel.
Sonhando com os pés no chão e consciente do tamanho do passo que pode dar, José imagina onde gostaria de morar, a localização, o tamanho e as características do imóvel.
Depois de uma boa pesquisa do mercado imobiliário nos diversos sites de compra e venda de imóveis, tem uma boa ideia do preço do metro quadrado da região e pode estimar o valor da compra: imóvel novo, de 50 m², preço médio de R$ 6.000/m², custo de R$ 300 mil.
José não desanima, ele não precisa de todo esse dinheiro, mas de cerca de 20% desse valor, R$ 60 mil. Esse será o valor da entrada, o saldo será pago ao vendedor pela instituição financeira que lhe concederá o financiamento.
José não tem R$ 60 mil disponíveis para dar de entrada, tem R$ 10 mil guardados na poupança. Mas tem um carro que vale cerca de R$ 40 mil e pode ser vendido. Avalia ser perfeitamente possível abrir mão do carro por uns tempos para realizar o sonho maior, comprar seu primeiro imóvel!
Os R$ 10 mil que faltam foram presenteados pelos pais, que querem muito ajudá-lo a realizar o sonho. Estamos indo bem, mas qual será o valor da prestação do financiamento de R$ 240 mil? Será que cabe no orçamento de José?
Um financiamento contratado pelo Sistema de Amortização Constante (SAC), em 30 anos, com juros nominais de 10% ao ano, cobrará prestação inicial de aproximadamente R$ 2.600, e a última, de R$ 670.
O valor das parcelas iniciais é elevado, e José fica inseguro, achando que não será capaz de arcar com essa despesa. Calma, não desista, lembre que pode contratar o financiamento em nome de duas pessoas, unindo a renda de ambas. E pode usar o dinheiro do FGTS para amortizar o saldo devedor do financiamento e reduzir o valor da prestação.
Supondo saldo de R$ 80 mil no FGTS, o montante do financiamento será reduzido cobrando parcelas iniciais de cerca de R$ 1.770. Dez anos depois, a parcela será de R$ 1.330, e, a partir do 21º ano, R$ 890. O orçamento vai ficar bem apertado nos primeiros anos, mas, como a parcela vai ficando cada vez menor, e a sua renda, cada vez maior, o sufoco será superado e o sonho, realizado.
José já examinou seu orçamento e sabe que despesas serão eliminadas, como o aluguel, ou reduzidas para abrir espaço para a parcela do financiamento imobiliário. Sem esse planejamento, o sonho pode virar um pesadelo, José sabe disso, conhece amigos e parentes cujas histórias não terminaram bem.
A casa dos sonhos de José custa caro e não será a primeira. Ele comprará um imóvel que cabe no seu bolso, e, à medida que sua capacidade financeira aumentar, poderá pensar no segundo e no terceiro, até chegar à casa perfeita. Ou não… quem sabe descubra que menos é mais, menos trabalho, despesas menores e dinheiro sobrando para realizar outros sonhos.
Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 11/05/2020.