CDB com rating baixo vale a pena com cobertura do FGC?
Estou pesquisando investimentos de renda fixa e encontrei papéis de bancos que pagam bem, mas têm um rating mais baixo. Isso faz diferença se estiverem dentro dos limites do FGC?
Camila Barbosa, CFP®, responde:
Diante de um ambiente macroeconômico desafiador para o Brasil em 2022 e de taxa de juros elevada, a classe de investimentos em renda fixa continua sendo uma importante opção de alocação.
Os títulos bancários com cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) são uma alternativa de investimentos em renda fixa para quem busca retorno, mas não quer correr o risco de perder o capital investido em uma eventual falência da instituição.
Entretanto, o FGC só protege alguns ativos de renda fixa e segue uma série de regras que limita a sua atuação. Portanto, é importante entender como funcionam essas regras.
O FGC é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que tem como objetivo promover garantias de crédito aos investidores das instituições participantes do fundo e contribuir para a manutenção da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional.
Os principais e mais comuns títulos cobertos pela garantia são: letras de câmbio (LC), letras de crédito imobiliário (LCI), letras de crédito do agronegócio (LCA), certificado de depósito bancário (CDB), depósitos de poupança e letras hipotecárias (LH).
Existe um limite de cobertura de R$ 250 mil por conglomerado financeiro com o teto de R$ 1 milhão por CPF e CNPJ, renovado a cada 4 anos para aplicações contratadas a partir de 22 de dezembro de 2017. Vale lembrar que a garantia protege o valor investido mais os rendimentos, portanto é importante aplicar um valor menor para não exceder o limite.
Apesar da segurança do FGC, o rating de classificação de risco é importante para o investidor decidir onde alocar seus recursos e como balancear a sua carteira. Caso a instituição financeira que emitiu o ativo investido entre em default (calote), o pagamento dessa garantia nunca é feito de forma automática. Os investidores recebem em média em um prazo de 90 dias em caso de intervenção ou liquidação da instituição e cada caso deve ser avaliado individualmente. Portanto, é importante não alocar toda a reserva de emergência nesse tipo de ativo. Além do mais, durante esse período o dinheiro não rende e, se o FGC demorar a pagar, menor será o retorno efetivo do seu investimento.
Um outro ponto importante para considerar é que o FGC pode ter risco de crédito. Ele funciona de forma diferente de um seguro, pois só irá reembolsar o valor se tiver recursos disponíveis.
A liquidez do FGC até junho de 2021 correspondia a 2,04% do saldo de depósitos elegíveis, conforme o próprio site do FGC. Ou seja, se houver uma quebra de sistema acima da liquidez do FGC, não haverá recursos suficientes para honrar todos os pagamentos. Logo, não existe uma garantia de recebimento em caso de um risco sistêmico.
Bancos de pequeno e médio porte pagam taxas mais atrativas. Se você entende dos riscos, não há problema em buscar as melhores taxas. Mas é importante avaliar a capacidade financeira do emissor e a situação econômica do país antes de investir. A diversificação continua sendo uma regra importante para pulverizar o risco de uma carteira de investimentos.
Camila Barbosa Garcia é planejadora financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 28 de março de 2022.