Consultório Financeiro

Certificados de operações estruturadas. É boa oportunidade?

Recebi a oferta de um investimento em COE que chega a pagar 18% ao ano com capital protegido. Do que se trata? É uma boa oportunidade?

Jaques Cohen, CFP®, responde:

O que é COE?

COE é a sigla para certificados de operações estruturadas, que muitas instituições oferecem aos seus clientes.

Para responder a sua pergunta, é preciso entender as regras de remuneração e as operações que são estruturadas na sua emissão.

Diferentemente de papéis como os CDBs, os COEs têm regras de remuneração baseadas em cenários. Esses cenários se baseiam no desempenho de ativos, de moedas ou de índices, como o Ibovespa.

Um COE poderia trabalhar, por exemplo, com dois cenários para o dólar. Em um, ele valoriza 10% ou mais em um período. Em outro, não. Para cada cenário, define-se então a remuneração.

Uma modalidade muito difundida é a de capital protegido. Nela, a regra do cenário desfavorável é a devolução do valor investido. Como esse valor não é corrigido pela inflação, na prática incorre em uma perda.

COE e Inflação

É possível argumentar que, em um cenário de inflação baixa como o de 2020, isso talvez não seja um problema tão grande. Mas deve-se considerar a inflação de todo o período do certificado – que pode ser maior que um ano.

Quanto aos COEs sem capital protegido, estes também limitam suas perdas, mas em um patamar menor do que o do valor investido.

As duas modalidades têm um elemento interessante para quem aceita se expor a algum risco limitando perdas. Em contrapartida, podem ter seus ganhos limitados também. Aliás, nenhuma conta com a garantia do FGC – Fundo Garantidor de Crédito.

Outro ponto muito importante é a liquidez do COE, que sempre tem um prazo. Portanto, se você estiver investindo sua reserva de emergência ou algum dinheiro vinculado a objetivos de curto prazo, não faz sentido optar por ele.

É possível ter um retorno alto?

Sobre a rentabilidade, como a taxa SELIC se encontra em mínima histórica, na prática os COEs também não vão conseguir oferecer um retorno esperado tão alto.

Como, então, a oferta que você recebeu fala em 18% a.a.?

A resposta se encontra nas regras estabelecidas para compor cenários. Uma regra muito difundida é a de avaliar o desempenho de vários ativos e exigir que todos sejam positivos simultaneamente.

Digamos que a regra indique que cinco ações devam subir em um período para pagar 18% a.a. Ou seja, basta que uma delas não vá bem para o resultado ser encaixado no cenário desfavorável. Mesmo se as perspectivas forem boas, uma situação dessas, em que todos os setores caminham bem, é menos provável.

Outra forma de ver isso é pela própria estrutura de um COE, que concentra quase todo o dinheiro em títulos de renda fixa para garantir a proteção prometida com os juros desses investimentos. Dessa forma, o restante é destinado ao mercado de derivativos, que, por ser muito mais sensível a mudanças de preços, permite que a instituição pague o que foi estabelecido em caso de cenário favorável.

O que interfere com a Selic baixa

Com a SELIC baixa como agora, essa estrutura precisa alocar mais em títulos e menos em derivativos. Isso leva os COEs a serem desenhados com regras mais improváveis para que consigam oferecer cenários de rentabilidade alta.

Aliás, como você tem pesquisado, pode ser que encontre conteúdo sobre investimento direto no mercado de derivativos. Só que é preciso ter cautela, já que ele é extremamente volátil. Tomar gosto por derivativos muitas vezes leva investidores a aplicarem seu dinheiro de forma próxima da jogatina.

Por isso, sugiro que se atenha a instrumentos com os quais se sinta confortável. O ideal é alinhar os seus investimentos a objetivos, respeitando seu perfil e seu horizonte de investimento. 

Jaques Cohen é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. Ou seja, O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 26 de outubro de 2020

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