Com a queda dos juros, é hora de comprar ações?
Como investidor, sempre tive um perfil mais conservador. Com a queda recente das taxas de juros, porém, estou propenso a ser um pouco mais agressivo nas minhas aplicações e investir também no mercado de ações. Tenho dúvidas se este é o melhor momento e sobre qual é a melhor forma para diversificar meu portfólio.
Leticia Camargo, CFP®:
Com o atual patamar de juros reais, seria apropriado que as pessoas revissem seu planejamento financeiro, mas o que percebo é que a grande maioria ainda não atentou para essa nova realidade. Acabou-se o tempo em que bastava aplicar em produtos conservadores e a rentabilidade das altas taxas garantiria o aumento do seu patrimônio com quase nenhum risco. Tudo indica que, a partir de agora, os tempos serão de baixos juros e isso terá uma grande influência para o futuro financeiro de cada um.
Se você pretende investir com um horizonte de longo prazo e já possui uma reserva de emergência equivalente a seis vezes de seus gastos mensais em produtos conservadores, sugiro que aplique o restante de suas economias em ativos um pouco mais arriscados. Dessa forma, poderá diversificar a sua carteira e terá a possibilidade de conseguir melhores rentabilidades.
Se preferir manter sua postura de aversão ao risco, aplicando todos os seus recursos em poupança ou fundos DI, as opções para conseguir manter o mesmo nível de aposentadoria esperado antes da queda nas taxas serão: passar a poupar mais, adiar a data da aposentadoria ou se programar para um padrão de vida mais simples no futuro.
Com a continuidade da queda dos juros, um grande risco para os investidores muito conservadores será o de que a rentabilidade de suas aplicações não consiga nem superar a inflação. Isso já ocorre em boa parte dos países desenvolvidos e, por isso, nessas regiões os investidores costumam aplicar uma parcela considerável de suas economias em renda variável, para garantir a manutenção de seu poder de compra e de seu patrimônio.
Ao adquirir uma ação na bolsa estamos comprando um pedaço de uma empresa e teremos bons ganhos se a companhia auferir bons lucros. Já que investir em uma empresa tem mais risco do que aplicar em renda fixa, parece razoável esperar que o retorno no longo prazo seja maior; caso contrário, ninguém iria se aventurar a abrir um negócio.
É muito difícil prever qual o melhor momento para entrar na bolsa; portanto, a melhor estratégia é começar aos poucos. Efetuando aplicações regulares será possível compor um preço médio e minimizar as chances de entrar num período de alta das cotações.
Para poder escolher em quais ações investir é preciso muita disciplina e dedicação. É preciso estudar cada uma das empresas e seus setores. Portanto, se você não tiver todo esse interesse ou todo esse tempo disponível, sugiro procurar um bom gestor e aplicar em fundos de investimento em ações.
Além da renda variável, também é possível diversificar seu portfólio investindo em produtos atrelados a índices de inflação, como as NTN-Bs, e em produtos imobiliários, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e os fundos imobiliários.
Lembre-se de que a diversificação dos ativos ajuda a minimizar os riscos de uma carteira de investimentos. É aquele velho ditado: “Nunca coloque todos os ovos na mesma cesta”.
Em qualquer dos casos, refaça o seu questionário de perfil de investidor e verifique se assumir um pouco mais de risco seria a melhor opção para você.
Leticia Camargo é Planejadora Financeira Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 27 de agosto de 2012.