Consultório Financeiro

Com reserva de R$ 1,5 milhão, posso me aposentar?

Tenho cerca de 50 anos. Acumulei uma boa reserva ao longo da vida, de cerca de R$ 1,5 milhão. Sou divorciada e meus pais moram comigo. Eles têm apenas a renda da aposentadoria, de aproximadamente R$ 1.500,00 por mês. Tenho um gasto total mensal de aproximadamente R$ 10 mil. Quero parar de trabalhar brevemente. Gostaria de saber se meu dinheiro será suficiente? (C.M.)

Fernando Meibak, CFP®:

Parabéns pela reserva acumulada em sua vida de trabalho. Beirando os 50 anos, já teve uma carreira bastante longa, mas ainda tem uma boa capacidade de trabalho. Assumindo que você tem uma atividade empregatícia normal e que continuaria recebendo renda mensal, por mais algum tempo, se quisesse, sua pergunta transmite a impressão de que você gostaria de parar de trabalhar por motivos não explicitados e, para isso, gostaria de saber se as reservas são adequadas.

Alguns fatores precisariam ser avaliados com cuidado. O fato de seus pais dependerem de você implica um fator de risco de crescimento de despesas em consequência da maior idade. Os custos com planos médicos, remédios e eventualmente assistentes, em casos de doença ou deterioração de condições de saúde, são relevantes. Sua família tem carga genética que permite estimar que seus pais possam viver até os 90 anos, por exemplo? Não sei a idade deles, mas imagino algo próximo dos 75 anos. Ou seja, ainda por um bom tempo você terá que prover esse suporte financeiro para eles…e para você.

Provavelmente você investe suas reservas em produtos financeiros de baixo risco, de renda fixa, como seria recomendável. Nessa área, talvez você possa agregar alguma eficiência a seus investimentos através da migração de um produto para outro, quer por redução do custo envolvido (trocar um fundo de investimento de taxa de administração alta por outro ativo de custo mais baixo) ou por melhoria de rentabilidade (sair de um título de taxa mais baixa para outro de rentabilidade melhor). Nesse grupo, gosto muito dos títulos bancários, especialmente Letras Financeiras, que remuneram melhor que os CDBs – Certificados de Depósitos Bancários. Você tem que investir recursos de forma conservadora, escolhendo boas instituições financeiras.

O sistema bancário brasileiro é muito sólido, com instituições de alta qualidade e baixo risco. Também sou grande fã do mecanismo de investimento chamado Tesouro Direto, no qual você tem menores custos de transação de uma diversidade de títulos do Tesouro Nacional para aplicar: títulos pré, títulos indexados à taxa de juros, títulos atrelados ao IPCA etc.

As taxas de juros são muito altas no Brasil. Investindo recursos em renda fixa você se beneficia desses juros elevados. É importante estar atenta, entretanto, que no médio e longo prazo a taxa de juros irá cair. Esse é um fator de risco, que poderá reduzir os rendimentos dos seus investimentos.

Indo para a parte central de sua pergunta, sobre a capacidade de suas reservas suportarem seus gastos. Vou fazer alguns cálculos conservadores:

– Assumir que seus gastos de R$ 10 mil mensais serão corrigidos por inflação de 4% ao ano ao longo do tempo

– Estimar que a taxa de juros líquida de impostos de seus investimentos será de 3% ao ano, além da inflação.

Assim, indicarei quanto tempo durará suas reservas investidas diante desse seu padrão de gastos.

Suas reservas, com as premissas indicadas, terminarão em 15 anos e meio. Ou seja, ao fim do 187 mês, o dinheiro irá acabar…

Diante do quadro exposto, você não tem muito que fazer: precisará reduzir as despesas e/ou aumentar a fonte de receita. Nessa área, dada a capacidade de trabalho que você ainda tem, você deveria se manter em atividade, gerando renda.

Enfim, é muito cedo para você parar de trabalhar e viver do rendimento de suas reservas…

Fernando Meibak é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para : [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 17 de outubro de 2011.

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