Consultório Financeiro

Como escolher investimentos e se proteger contra fraudes

Recebi recentemente uma herança. Sou bastante conectado e leio muito sobre investimentos. Recebo ofertas com promessas de retorno muito atraentes, mas que também me amedrontam. Como posso me proteger contra fraudes? Um produto com muitas adesões é sinal de que é bom? Como saber quem age genuinamente para me ajudar?

Andrea Masagão Moufarrege, CFP®, responde:

Sua preocupação é legítima e pertinente com o ambiente atual. O acesso à informação não é mais barreira para boas decisões de investimento.

A prática do “faça você mesmo” tem sido usada cada vez mais por investidores conectados a plataformas digitais. A tecnologia proporciona redução de custos e democratização.

No entanto, o mercado financeiro é complexo e requer atenção. Para explicar melhor, vou fazer um comparativo com o setor de saúde.

Quem não quer ficar mais rico ou mais saudável? As ofertas que apelam para o senso comum usam estratégias de cognição que ativam tendências de comportamento, como excesso de confiança, otimismo exagerado e ilusão de controle. O mesmo cuidado que deve ser tomado com o remédio que promete emagrecimento sem esforço deve ser aplicado a ofertas de enriquecimento sem adequação do produto ao perfil do investidor.

Os melhores aliados contra fraudes são os órgãos reguladores. Em uma rápida procura, é possível checar se uma oferta pública, por exemplo, está registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os selos da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) indicam que as informações divulgadas são suficientes. Interpretá-las, porém, não é tarefa fácil. Lembram as bulas de remédios. Aqui começa o limite do “faça você mesmo” em investimentos.

Quando chegar a esse ponto, procure ajuda. Profissionais qualificados aderem ao princípio da diligência, aprofundam as análises e protegem os investidores.

As ofertas “só falta você” apelam para a necessidade humana de pertencimento e incentivam uma decisão rápida e sem análise. Cada investidor tem um perfil. A personalização protege contra a armadilha do efeito manada. Já reparou que uma receita para um remédio controlado é sempre nominal?

O médico acompanha os efeitos, ajusta e indica a alta. Fugir das tendências comportamentais não é tarefa fácil. O apoio de um profissional especializado ajuda muito. O princípio da competência respalda essa entrega.

Uma relação competente de aconselhamento financeiro inclui coleta de informações, análise de estratégias e síntese para elaboração de um plano individualizado.

Por fim, chegamos à questão final, que é central. Conflitos de interesses são inerentes a vários mercados. No financeiro, assim como no de medicamentos, são facilmente identificados. A saída é a transparência.

Pergunte claramente como a pessoa é remunerada. O comportamento na resposta já é um potencial sinal de alerta.

O princípio do cliente em primeiro lugar estabelece que ganhos e vantagens pessoais não podem sobrepor-se aos interesses dos clientes.

Então, assim como um médico, a reputação do profissional do mercado financeiro é muito importante. Levante sua história, formação, experiência e se tem certificações que  atestam os conhecimentos e a conduta. Um profissional CFP, por exemplo, adere a um código de conduta ética que estabelece princípios.

Combinando o acesso a produtos competitivos e o apoio de profissionais qualificados, estou certa que você lidará com tranquilidade com o desafio de preservar seu patrimônio.

Andrea Masagão Moufarrege é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 11 de junho de 2018

0