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Como identificar bons fundos de crédito?

Alexandre Brito, CFP®, responde:

No âmbito da gestão de patrimônio, especialmente no aspecto do planejamento de alocação, é fundamental considerar a parcela destinada à classe de ativo de renda fixa. Nesse sentido, abordando a temática dos fundos de crédito privado, é possível destacar cinco fatores que são absolutamente fundamentais na análise: (i) capacity; (ii) especialização do time de gestão; (iii) histórico de resultados (track-record); (iv) composição da carteira; e (v) liquidez.

Em relação ao fator capacity, este é um dos principais elementos no momento da análise, porque diz respeito à capacidade do gestor de manter seu histórico de resultados e sua filosofia de investimento em um volume ótimo de ativos sob gestão. Acontece que muitos gestores, ao longo da trajetória, acabam por negligenciar esse ponto e crescem a sua base de ativos sob gestão para além do que a estratégia em questão e o próprio tamanho do mercado são capazes de suportar. Questionar o gestor a respeito do volume que ele considera ideal para a gestão do fundo é um ponto importante para levar em discussão.

Sobre a especialização do time, a análise de crédito privado é o tipo de atividade que deve ser desempenhada por um grupo de gestores especialistas e com histórico profissional de resultados nessa estratégia específica. Normalmente, times generalistas acabam por sucumbir em eventuais crises.

De semelhante modo, o fundo e o time de gestão também devem apresentar um bom histórico de desempenho, especialmente em períodos de adversidade – similar ao que tivemos no primeiro semestre de 2023. Importante frisar ainda a capacidade da gestão em superar seu benchmark em janelas ajustadas pelo horizonte de tempo do investidor e da própria filosofia de investimento do gestor.

Além disso, é de crucial importância analisar a composição da carteira de investimento, especificamente a exposição a níveis de risco de crédito, setores econômicos e emissores específicos. Alguns gestores aderem a limites máximos de exposição da carteira a tais configurações – o que é importante para balancear o perfil do portfólio do fundo. Em nossa experiência, um limite máximo de concentração por emissor de 5% é extremamente prudente.

Por fim, é essencial observar também a liquidez do fundo. Um dos fatores que foi responsável por diversas crises no mercado de crédito no passado é o descasamento do prazo de liquidez versus a composição do portfólio e a própria base de investidores. Historicamente, é possível notar que fundos acabaram sendo extintos do mercado por possuírem um horizonte de investimento para o longo prazo, mas permitirem uma liquidez de curto prazo aos cotistas. Esse descasamento pode ser perigoso, especialmente quando o fundo passa por uma fase de alto fluxo de resgates.

Vale salientar, mesmo considerando esses cinco relevantes fatores de análise de um fundo de crédito privado, a importância de o investidor ter a gestão do seu patrimônio amparada por um profissional independente e certificado. Esse profissional, um gestor, vai contribuir não somente na construção do seu plano de alocação de recursos, como também em seu planejamento patrimonial como um todo – inclusive construindo uma diversificação também entre vários fundos de crédito privado, para dirimir eventuais riscos de concentração.

Alexandre Brito é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 6 de maio de 2024

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