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Como investir em infraestrutura e receber dividendos?

Magno Camelo, CFP®, responde:

Investir em infraestrutura pode ser uma estratégia interessante para quem busca receber dividendos e obter retornos consistentes a longo prazo.

Uma das opções disponíveis para investir em infraestrutura são as debêntures incentivadas. Essas debêntures são títulos de dívida emitidos por empresas para captar recursos e financiar projetos de infraestrutura nos setores de energia, logística, transporte, telecomunicações, saneamento e mobilidade urbana. As debêntures incentivadas oferecem aos investidores a oportunidade de receber juros periódicos e o valor investido de volta corrigido no vencimento, além de possuírem isenção de imposto de renda, o que pode torná-las atrativas para investidores.

As debêntures incentivadas podem oferecer taxas pré-definidas ou remunerar os investidores com base na variação do CDI ou de um índice inflacionário mais uma taxa real, e em muitos casos apresentam retornos superiores aos títulos públicos.

É importante ressaltar que investir em infraestrutura envolve riscos. Os projetos podem enfrentar desafios, como atrasos na execução, problemas regulatórios e variações no cenário econômico. Assim, as empresas poderão apresentar problemas de liquidez e solvência e não honrar as suas dívidas, fazendo com que o risco de crédito seja um dos principais aspectos a serem analisados pelo investidor ao selecionar os papeis em que investirá.

Outra opção são os Fundos Incentivados de Investimento em Infraestrutura, também conhecidos como FI-Infra. Os fundos oferecem a vantagem da diversificação, pois investem em diferentes setores, empresas e projetos. Além disso, são geridos por profissionais especializados, o que pode trazer mais segurança e expertise na seleção dos ativos.

Ao optar pelos FI-Infra, o investidor reduz a probabilidade de ruína, ou seja, a possibilidade de perda permanente. Por exemplo, se um investidor seleciona cinco debêntures e uma delas perde totalmente o seu valor – no jargão do mercado, “vira pó” –, é necessário que os demais títulos rendam, em média, 25% para que o valor investido seja recuperado, sem qualquer ganho adicional. É importante mencionar que existem debêntures que oferecem garantias aos investidores, mas o processo para recebê-las não é simples.

Adicionalmente à maior diversificação, os FI-Infra recebem os proventos das debêntures em que investiram e podem distribuir parte dos rendimentos aos cotistas periodicamente. Entretanto, diferentemente dos Fundos de Investimento Imobiliário (FII), nem todos os investimentos em infraestrutura pagam dividendos regularmente. Alguns projetos podem gerar fluxo de caixa suficiente para distribuir dividendos aos investidores, enquanto outros podem priorizar o reinvestimento dos lucros para expansão e manutenção dos ativos. Por isso, é fundamental avaliar a política de distribuição de dividendos de cada investimento.

Os FI-Infra podem também proporcionar retornos por meio da valorização das cotas, valorização essa que, diferentemente do que ocorre nos FII, não é tributada pelo imposto de renda. Portanto, os FI-Infra possuem o benefício fiscal tanto na distribuição de dividendos quanto no ganho de capital.

Quanto à liquidez, é importante destacar que investimentos em infraestrutura geralmente possuem prazos mais longos. Debêntures, por exemplo, têm um prazo de vencimento determinado. Já os FI-Infra possuem um período de carência e podem ter restrições para resgate antecipado. Por outro lado, atualmente existem fundos listados na B3 que podem ser vendidos no mercado secundário, mas o investidor poderá sofrer perdas na marcação a mercado caso queira se desfazer do papel. Portanto, é necessário ter uma visão de longo prazo ao investir nesse setor.

Em resumo, debêntures incentivadas e FI-Infra são algumas das opções disponíveis para investir em infraestrutura e podem ser uma alternativa interessante para quem busca receber dividendos e obter retornos consistentes a longo prazo.

Por fim, é fundamental realizar uma análise criteriosa dos projetos, considerando os riscos envolvidos, e contar com o auxílio de profissionais especializados, como consultores financeiros e gestores de fundos. Além disso, é importante que o investidor considere outros investimentos em sua carteira, como ações, títulos públicos e fundos imobiliários, entre outros ativos, para garantir uma diversificação adequada, de modo que possa reduzir os riscos e aumentar as chances de obter retornos consistentes.

Magno Camelo é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. 

Texto publicado no jornal Época Negócios em 27 de fevereiro de 2024

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