Como investir em um cenário de juros altos?
Investidor pode rebalancear sua carteira e direcionar a maior parte para a renda fixa, mas não deve deixar de diversificar, considerando que a concentração pode gerar perda de oportunidades
Miqueias Emanuel Nogueira, CFP® e Matheus Toni Silva Ferreira, CFP® , respondem:
No cenário de queda da taxa SELIC, que chegou a inéditos 2% em meados de 2020, muitos investidores experimentaram pela primeira vez investimentos não tão populares para o brasileiro, a exemplo de Fundos Multimercado, Ações, Fundos Imobiliários etc., com o objetivo de maximizar seus ganhos.
Entretanto, esse cenário vem mudando com os sucessivos aumentos da taxa de juros – a SELIC subiu de 2% ao ano no início de 2021 para 13,75% no final de 2022. Ao longo do ano passado, o investimento no mercado financeiro brasileiro foi migrando para a renda fixa, tendo em vista principalmente a rentabilidade maior que essa modalidade de investimento passou a proporcionar sem a necessidade de correr um risco elevado como contraparte. No acumulado, um investimento atrelado à Selic rendeu em torno de 16,93% nesse período, enquanto o índice Ibovespa teve perdas no montante de 7,24%. Outro fator que direcionou os investimentos para a renda fixa foi a inflação, que em números oficiais foi de 15,71% entre janeiro de 2021 e novembro de 2022.
A oferta de papéis de renda fixa no mercado tem sido abundante nos últimos tempos, de Letras de Crédito, CDBs e Títulos do Tesouro Direto a Fundos de Renda Fixa nas mais diversas categorias (fundos conservadores atrelados ao CDI ou fundos mais agressivos que agregam mais componentes de risco visando superar o CDI e por isso podem apresentar rentabilidade negativa) e títulos privados como Debêntures, CRI e CRA (que sujeitam o investidor ao risco adicional de crédito do emissor). Há inclusive aqueles que optam por investir em Fundos Multimercado, com o objetivo de capturar o melhor dos dois mundos entre renda fixa e variável, e aqueles que optam por um COE (Certificado de Operação Estruturada), que tem a garantia de rentabilidade mínima dada pela instituição emissora.
Alguns títulos de renda fixa contam ainda com a segurança do Fundo Garantidor de Créditos, como o CDB e a LCA, no montante de até R$ 250 mil por CPF por instituição financeira, o que permite que os investidores acessem instituições diferentes que podem oferecer rentabilidade superior. No caso do CDB é possível aplicar, inclusive, em determinadas opções sem período de carência para resgate. Outro diferencial positivo que se destaca é a isenção de qualquer tributação nas letras de crédito (LCA e LCI), que torna esses investimentos muito competitivos mesmo quando comparados a títulos do Tesouro que têm rentabilidade nominal maior. Em todos esses casos, é preciso verificar valores mínimos e máximos, e os prazos de carência, de acordo com a política de cada instituição.
No momento do planejamento financeiro, o investidor precisa separar o montante que deve aplicar com liquidez imediata (visando formar sua reserva de emergência) do valor que pode deixar com maior tempo de carência, tendo em mente que poderá auferir uma rentabilidade maior nessa parte.
Mas, afinal, o investidor deve vender todos os seus ativos de renda variável e aplicar em títulos de renda fixa? Não. O investidor pode rebalancear sua carteira de investimentos e direcionar a maior parte para a renda fixa, porém não deve deixar de diversificar, tendo em vista que a concentração pode gerar perda de oportunidades.
Diante da grande oferta e das inúmeras oportunidades, ao investir é preciso ter pensamento mais pragmático e objetivo, e ponderar o ganho potencial que um papel de maior risco pode representar quando comparado ao risco que se precisa assumir. Trata-se do clássico risco vs. retorno, que deixa sua carteira aderente ao seu perfil de investidor. As opções de renda fixa, geralmente, combinam mais com um perfil de investidor conservador. Cabe ao investidor encontrar seu ponto ideal de diversificação e tentar capturar da melhor forma possível os ganhos com os ativos disponíveis. Buscar informações e orientações com um profissional de confiança é essencial para subsidiar a tomada de decisão.
Miqueias Emanuel Nogueira, CFP® e Matheus Toni Silva Ferreira, CFP®, são planejadores financeiros pessoais e possuem a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. Email: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 13 de fevereiro de 2023.