Como investir no exterior com BDR ou outras alternativas?
Queria entender melhor sobre investimentos no exterior a partir do Brasil. Como funciona o BDR? Existem outras alternativas? Como lidar com o risco cambial?
João Botosso, CFP®, responde:
A possibilidade de diversificar o portfólio de investimentos em um mercado global tem chamado a atenção do investidor brasileiro em geral. Valores acessíveis, menos burocracia e a melhora da relação risco x retorno são os principais motivos. Essa evolução se fez necessária uma vez que na B3, a bolsa brasileira, são negociadas ações de apenas 1% das companhias existentes no mundo, cerca de 400 empresas. Somente nas bolsas americanas, por exemplo, estão listadas mais de 5 mil empresas, uma diferença expressiva. Mas é sempre bom lembrar que o percentual alocado nesses ativos precisa estar adequado ao seu perfil de investidor.
Um dos instrumentos disponíveis é o BDR (Brazilian Depositary Receipt), recibo que representa ações de empresas negociadas no exterior como Apple, Amazon e Google. As ações negociadas no exterior são compradas por uma instituição depositária. Esses papéis são custodiados e vinculados aos recibos, que são negociados no Brasil (BDR Não Patrocinado). A companhia estrangeira também pode procurar instituições para intermediar e custodiar suas ações no Brasil, e oferecê-las ao público mediante os recibos (BDR Patrocinado).
Com o BDR você terá direito às variações do ativo, ao recebimento de dividendos e aos juros sobre capital próprio, mas não terá direito a voto porque não é sócio da empresa. Mesmo sendo um recibo, ele é fiscalizado e regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Você investe através do seu Home Broker digitando o código do BDR, igual à compra de uma ação. Na operação poderá ser cobrada taxa de corretagem, emolumentos e custódia. A tributação é de 15% sobre o lucro e não há isenção no recebimento de dividendos nem venda mensal abaixo de R$ 20 mil, como ocorre com as ações no Brasil.
O BDR estará sujeito à variação cambial. Se o dólar se desvalorizar em relação ao real, a rentabilidade do BDR cairá. Do contrário, se o dólar se valorizar diante do real, a rentabilidade aumentará. Para lidar com esse risco você pode optar por fazer um hedge (proteção), como por exemplo investir em fundo de investimento internacional não dolarizado.
E, por falar em fundo de investimento, essa é outra alternativa simples nesse contexto. Para investidores do varejo, o fundo pode destinar até 20% do patrimônio a ativos financeiros no exterior. Já para o investidor qualificado (com patrimônio superior a R$ 1 milhão), os fundos podem destinar até 40%. A tributação é de 15% sobre os ganhos para fundos de ações ou conforme a tabela regressiva do imposto de renda (com alíquotas de 22,5% a 15%) se forem de renda fixa ou multimercados.
Mais uma opção é o COE (Certificado de Operações Estruturadas), uma solução flexível que mescla características de renda fixa e derivativos que possibilitam acessar o mercado internacional. A tributação segue a tabela regressiva do imposto de renda.
E, por fim, os ETF (Exchange Traded Funds) são fundos de índices que replicam a carteira de um índice e acompanham seu desempenho. Você tem disponíveis fundos como o que replica o S&P 500, referência no mercado de ações americano. A operação é igual à compra de ações e a tributação é semelhante à do BDR.
Recomenda-se o acompanhamento de um profissional habilitado para conduzir o processo de investimento.
João Botosso é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: joao.botosso@svninvestimentos.com.br
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 30 de agosto de 2021.