Seu Planejamento Financeiro

Como investir sem perder dinheiro no período eleitoral?

Roberto C. Agi, CFP®, responde:

Realmente estamos navegando em mares turbulentos e, aparentemente, o cenário não deve mudar muito até a contagem do último voto. A situação fiscal do país é preocupante e a incerteza em relação a quem assumirá a cadeira de presidente no próximo ano faz com que os ativos de risco oscilem bastante nesse período.

Um presidente pouco comprometido com as reformas ou que não tenha capital político para implementá-las reacende o medo de que o país não seja atraente para novos investimentos, de que o real continue a se desvalorizar e o Banco Central seja obrigado a subir a taxa de juros de forma expressiva com o objetivo de manter o capital estrangeiro no país, assim como têm feito os Bancos Centrais de países em situações ainda mais frágeis do que a do Brasil, como Turquia e Argentina.

Nesse contexto, para os investidores que não desejam ver seu patrimônio oscilar para cima ou para baixo, o porto mais seguro é investir no título público Tesouro Selic. Nesse investimento, o retorno está diretamente atrelado à variação da taxa Selic, ou seja, se ela subir, o retorno do título sobe imediatamente. Da mesma forma que se voltar a cair, o que não parece que deve ocorrer tão cedo, o retorno se reduz também.

Em termos de risco de crédito, emprestar dinheiro para o Governo é considerado um risco muito baixo (no limite, o Tesouro emite moeda para honrar suas obrigações). Contudo, como risco baixo e retorno alto andam em caminhos opostos, ao investir no Tesouro Selic, não podemos esperar que o patrimônio cresça a uma velocidade muito alta – hoje a taxa Selic está em 6,50% ao ano e se formos descontar custos de negociação ou custódia, imposto de renda e inflação (hoje rodando perto de 4,0% ao ano), não sobra muita coisa – algo um pouco acima de 1% líquido ao ano acima da inflação.

Com risco de mercado equivalente, há outros investimentos que também acompanham as flutuações da taxa Selic, como Títulos Bancários com garantia do FGC indexados ao CDI, Fundos Referenciados DI e Fundos ou Títulos de Crédito Privado, mas, ainda que o retorno seja um pouco mais alto, vale reforçar a atenção ao risco de crédito e ao risco de liquidez (risco de não receber parte ou todo o dinheiro de volta ou precisar do dinheiro e ele estar travado) e prestar atenção na concentração, prazos, quem é o emissor ou gestor, é mandatório.

Um exercício que considero saudável é tentar “carimbar” seu patrimônio ou separá-lo de acordo com seus objetivos, como por exemplo quanto vai para a reserva de emergência, compra de apartamento, educação dos filhos, ou capital que servirá para, no futuro, complementar ou substituir a renda que tem hoje (aposentadoria ou longevidade).

Essa separação serve para que seja possível determinar diferentes níveis de risco ou de liquidez para cada uma dessas caixinhas. Na reserva de emergência, por exemplo, independentemente do cenário, os recursos sempre precisam estar investidos em ativos líquidos (disponibilidade imediata) e conservadores, como o Tesouro Selic. Fazendo dessa forma, talvez você possa aceitar algum risco de oscilação no valor para ao menos parte de seu patrimônio (para aqueles objetivos com horizonte mais longo).

Da mesma forma que o cenário atual traz muita incerteza, traz também oportunidades e, se entender que um pedaço de seu patrimônio pode estar um pouco mais exposto, pode fazer com que no longo prazo o retorno consolidado seja consideravelmente maior.

Como ilustração, nesses dias mais turbulentos, ao mesmo tempo que um título indexado à Selic rende ao redor de 6,50% bruto ao ano, um Tesouro IPCA com prazo de vencimento de 6 anos paga quase 6% ao ano mais a variação do IPCA ou um Tesouro prefixado para o prazo de 6 anos e meio paga mais de 12% bruto ao ano. Ambos podem oscilar muito mais do que o Tesouro Selic, mas, dependendo do cenário, podem oferecer um retorno muito mais alto também. Sugiro conversar com um planejador financeiro que te ajudará a entender como está ou como deveria estar dividido seu patrimônio, estimar sua capacidade de poupança, entender seu nível de aceitação de risco e desenhar um esboço de quais classes de ativos são mais razoáveis para o seu momento atual e para aquele que deseja atingir.

Roberto Agi é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site EpocaNegocios.globo.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 02 de outubro de 2018

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