Consultório Financeiro

Como organizar as finanças para trabalhar como autônomo?


Legalizar atuação é um caminho para proteger o negócio e acessar linhas de crédito melhores que as informais

Everton Barros CFP® responde:

Durante toda a trajetória profissional temos sonhos e buscamos alcançá-los com a maior fidelidade possível, embora muitas vezes exista um descompasso entre nosso tempo e o tempo que as coisas acontecem.

Frequentemente, nesse caminho, é necessário renunciar à segurança para buscar sonhos maiores, e olhar racionalmente é a melhor forma de considerar essa transição.

Quando o assunto é risco calculado, nada melhor do que observar os números que refletem a realidade econômica do nosso país. Números, nesse caso, do IBGE, uma entidade da administração pública federal e vinculada ao Ministério da Economia que tem como objetivo retratar o país com informações necessárias ao conhecimento da realidade econômica e social.

Um desses retratos é a Pesquisa conhecida como PNAD Contínua, que acompanha a evolução da força de trabalho, trazendo dados importantes para que você avalie sua tomada de decisão.

O IBGE, através dessa pesquisa, observou que os trabalhadores por conta própria no último trimestre de 2022 totalizavam 25,684 milhões. Desse total, apenas 6,673 milhões atuavam com CNPJ e 19,011 milhões atuavam sem cadastro.

Quando se compara o rendimento médio desses trabalhadores, há uma queda de 45,84% na renda daqueles que não possuem CNPJ. Essa relação pode ser impactada por diversos fatores, como dificuldade de crédito, falta de preparo profissional ou falta de estrutura adequada para transformar o sonho em realidade.

Leve em consideração legalizar sua atuação como autônomo, pois além de proteger o seu negócio, você atua em conformidade com a lei e pode acessar linhas de crédito muito melhores que as informais.

Para uma microempresa exercer suas atividades no Brasil, é preciso, entre outras providências, ter registro na prefeitura ou na administração regional da cidade onde ela vai funcionar, no estado, na Receita Federal e na Previdência Social.

Além disso, é importante avaliar, nessa transição, como está o nível da sua reserva de emergência, qual seu índice de endividamento (caso tenha dívidas) e quanto do seu patrimônio será destinado aos custos iniciais de capital de giro, custos com documentação, mensalidades, entre outros.

Reserva de emergência é o valor destinado para despesas que acontecem com imprevistos que não podem esperar para serem resolvidos, como um acidente envolvendo sua saúde ou de algum familiar, o destelhamento da sua casa em um temporal etc.

É recomendado um valor que cubra entre 6 e 12 meses das suas despesas mensais em um investimento de fácil resgate, como um CDB com liquidez imediata, por exemplo. Um erro comum cometido por empreendedores iniciantes é confundir reserva de emergência com capital de giro.

Por fim, não subestime os custos fixos, por menor que seja sua estrutura inicial. Não importa se esse acompanhamento é feito através de uma planilha, caderneta de papel ou software de última geração. Anote e controle todos os custos fixos e variáveis.

Para analisar com profundidade as questões relacionadas ao INSS, seriam necessários dados importantes e, infelizmente, ausentes para uma tomada de decisão com um risco calculado. Por isso, recomenda-se a contratação de um planejador para orientação personalizada de acordo com o enquadramento societário do seu empreendimento.

Everton Barros é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected] 

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]



Texto publicado no jornal Valor Econômico em 12 de Junho de 2023.

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