Consultório Financeiro

Como posso ter perdido no fundo cambial se o dólar subiu?

Em 12 de janeiro de 2010, apliquei R$ 30 mil em um fundo cambial de um grande banco de varejo, com o dólar comercial cotado a R$ 1,82. Em 19 de dezembro do ano passado, o dólar estava cotado a R$ 1,8466. Mas, segundo informação do banco, o saldo no meu fundo era de R$ 29.879! Se eu estivesse aplicado o dinheiro na caderneta de poupança, teria, após igual período, R$ 34.500! Acredito que isso que se passou comigo aconteça em todos os fundos cambiais. Para mim, foi um engôdo. Como isso pode acontecer? (L.C.E)

Ulisses Nehmi, CFP®:

Caro leitor, esse é um caso típico de confusão na hora de planejar seu investimento. Em outras palavras, é a dificuldade em alinhar o seu objetivo ao investir com o objetivo do produto escolhido.

O fundo cambial é um produto que normalmente tem como objetivo “a manutenção do poder de compra em moeda estrangeira” ou “acompanhar a variação de uma moeda estrangeira”. Como se pode perceber, esse tipo de produto não tem como objetivo o aumento ou a multiplicação do patrimônio. Além disso, os fundos cambiais costumam acompanhar uma determinada moeda estrangeira, geralmente o dólar. Há fundos, contudo, que acompanham o euro. O investidor tem que estar atento a que moeda o fundo em questão está ligado.

Além da variação cambial, o investimento em fundos cambiais está sujeito ainda às oscilações da taxa de juros indexadas (cupom cambial).

O investimento em um fundo cambial deve ser feito com o objetivo de proteção contra a desvalorização do real no médio e longo prazo. Para uma empresa importadora ou para alguém que cogita fazer um curso no exterior, o fundo cambial pode ser uma boa alternativa de investimento.

Para exemplificar o investimento num fundo cambial atrelado à variação do dólar, imagine uma aplicação de R$ 18.500 numa data que o dólar esteja valendo R$ 1,85. Isso equivale a US$ 10 mil. Se o dólar subir para R$ 2,00, a aplicação valerá R$ 20 mil, mas continuará sendo equivalente a cerca de US$ 10 mil.

Lembre-se que além do objetivo do fundo, dois pontos também devem ser observados. O primeiro é a taxa de administração, que se for muito elevada pode comprometer o rendimento da aplicação. O segundo é o imposto de renda, que é cobrado sobre os ganhos com alíquota de 22,5% a 15%, dependendo do prazo da aplicação.

Embora o produto proteja o investidor da variação cambial, o imposto de renda reduz esse nível de proteção. Por esse motivo, para viagens rápidas ao exterior, busque soluções mais práticas como moeda em espécie, cartão pré-pago, etc.

Por questões culturais, o investimento em moeda estrangeira sempre teve uma conotação errônea de investimento seguro e rentável, principalmente na época da hiperinflação. De qualquer maneira, naquele período o objetivo principal dos investidores era a proteção e manutenção do patrimônio, e não um investimento para multiplicação de patrimônio em si.

Desde o Plano Real vivemos uma realidade diferente, mas algumas pessoas ainda investem nesse tipo de produto sem um objetivo claro. Portanto, a comparação com o resultado que poderia ter sido obtido com a poupança mostra que houve um problema de alinhamento de objetivos.

Enquanto o leitor buscava uma alternativa rentável para seus recursos, acabou investindo num produto que buscava apenas a conservação do patrimônio em uma moeda estrangeira. Para evitar que isso aconteça novamente, planeje quando pretende utilizar esses recursos, que nível de rentabilidade pretende obter e de quais riscos precisa se proteger. Em seguida, busque produtos que tenham objetivos alinhados a essas premissas.

Ulisses Nehmi é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para : [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 16 de janeiro de 2012.

0