Como proteger meus gastos com aluguel da alta do IGP-M?
Grande parte das minhas despesas é de aluguel. Me assustei bastante com o IGPM desse ano, que fez meus gastos subirem demais. Por que isso aconteceu? Existe alguma forma de me proteger?
Lívia Sambrana, CFP®, responde:
Olá!
Sua pergunta é muito pertinente, principalmente porque o IGPM acabou assustando muita gente nos últimos meses.
O IGPM (Índice Geral de Preços – Mercado) é composto em 60% pelo IPA (Índice de Preços do Atacado), 30% pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) e 10% pelo INCC (Índice Nacional do Custo da Construção).
Todos esses índices têm a capacidade de medir a variação de preços para quem produz, para quem consome e para quem constrói.
Entender a variação de preços dentro de uma economia é extremamente importante para saber se a produção está sendo suficiente. Pode-se dizer que quando há produção suficiente os preços ficam estáveis, quando a produção está baixa os preços aumentam e quando há uma produção alta o preço diminui, conforme a regra de oferta e demanda.
Entendido isso, os índices contemplados no IGPM consideram preços de inúmeros setores como commodities, combustível, transporte, educação, vestuário, saúde, comunicação, alimentação, medicamentos, telefonia, serviços bancários etc. Dessa forma, se a produção de algum desses setores se reduz, o preço tende a aumentar e quem consome desses setores é diretamente afetado, tendo o seu poder de compra diminuído, ou seja, compra-se menos com a mesma quantia de dinheiro. É o sentimento que você teve com o aluguel: o local é o mesmo, porém agora você paga mais caro para viver nessa casa/nesse apartamento.
Uma contratação que envolva um fluxo de pagamentos ou recebimentos de médio ou longo prazo (2, 3, 4 anos) pode ter como base um índice. É isso que acontece com os contratos de aluguel. Depois de 1 ano ou determinado período, o reajuste é feito para que os pagamentos acompanhem essa variação de preços do mercado. É extremamente importante entender qual ou quais reajustes podem ocorrer em contratos.
Também é importante entender que a variação do índice no passado pode não se repetir no futuro. A variação pode ser maior ou menor no futuro. Nos últimos 20 anos, o histórico de volatilidade (medida de dispersão, que significa o quanto variou para cima ou para baixo) do IGPM ficou em 3,08%, nos últimos 2 anos essa medida ficou em 4,48% e no último ano em 3,87%. Ou seja, seus gastos realmente subiram mais que o histórico anterior. No atual cenário, o PIB 2020 caiu 4,1%, ou seja, tivemos baixa produção e, por consequência, uma elevação de preço e queda no consumo.
Acompanhar a economia é a primeira forma de proteção. Saber por que as coisas acontecem vai ajudar a tomar as melhores decisões.
É possível se proteger da inflação por meio de investimentos, como títulos de renda fixa, indexados ao índice IGPM, negociados para pessoa física em corretoras ou bancos. Vale ressaltar que os títulos terão vencimentos diferentes e que, no meio do caminho, eles poderão oscilar para cima e para baixo do preço inicial. Entretanto, no vencimento será resgatado o rendimento contratado.
Outra forma de proteção é tentar negociar com proprietários ou imobiliárias a utilização de outro índice no acordo de reajuste do aluguel, buscando um reajuste mais coerente com aquele usado na base salarial.
Antes de tomar uma decisão, consulte um planejador financeiro para entender as características dos produtos, os riscos e seu perfil de investidor.
Lívia Sambrana é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 04 de outubro de 2021.