Como usar o consórcio para comprar um imóvel?
Sou formada, trabalho, mas ainda moro com os meus pais. Gostaria de aproveitar esse período em que tenho menos despesas para me preparar para dar entrada em um imóvel e poder morar sozinha. Fazer consórcio é uma boa forma de dar entrada no imóvel?
Thiago Sampaio, CFP®, responde, com a colaboração de Rodrigo Furtado, CFP®:
Estimada leitora, parabéns por se preparar para esse projeto. A aquisição da casa própria é uma das principais decisões financeiras da vida de um indivíduo e sua família.
O consórcio é a modalidade de compra baseada na união de pessoas — físicas ou jurídicas — em grupos, com a finalidade de formar poupança para a aquisição de bens ou serviços. A formação dos grupos é feita por uma administradora de consórcios, que é autorizada e fiscalizada pelo Banco Central.
O valor do bem ou serviço é diluído em um prazo predeterminado, tratando-se de imóveis em até 200 meses, e todos os integrantes do grupo contribuem ao longo desse período mensalmente ou conforme estipulado em contrato. A administradora os contempla, por sorteio ou lance, com o crédito no valor do bem ou do serviço contratado, até que todos sejam atendidos.
No consórcio não há o pagamento de juros, mas sim de taxa de administração paga a administradora pela formação e organização do grupo, que em média fica em torno 20% do valor do bem. A depender do contrato, também pode haver a cobrança da taxa de fundo de reserva e de seguros, como por exemplo seguro de vida. Caso queira suspender o pagamento e reaver os valores já desembolsados, via de regra, esses valores serão devolvidos no término do grupo descontado as taxas e seguros.
Por exemplo, uma carta de crédito com um bem de R$ 100 mil, taxa de administração de 20%, fundo de reserva de 2% e sem cobrança de seguros para um prazo de 120 meses (10 anos) o valor da prestação mensal seria: R$ 100.000,00/120 = R$ 833,33 (fundo comum); R$ 20.000,00/120 = R$ 166,67 (taxa de administração); R$ 2.000/120 = R$ 16,67 (fundo de reserva); prestação = R$ 1.016,67.
Cabe salientar que a prestação e o valor da carta de crédito serão reajustados anualmente por algum índice, provavelmente, o INCC (Índice Nacional da Construção Civil).
Supondo que seu orçamento pessoal permita poupar por mês o valor de R$ 1.016,67 e que invista isso numa aplicação com rentabilidade mensal de 0,5%, em aproximadamente 81 meses acumulará o montante de R$ 100 mil referente à carta de crédito e terá desembolsado R$ 82.350,27 (R$ 1.016,67 X 81 meses), ao passo que utilizando o instrumento do consórcio desembolsaria o valor de R$ 122.000,40 em 120 meses, levando em consideração que aguardaria a contemplação por sorteio, e isso pode demorar um tempo além das expectativas.
Aproveitar o momento atual de despesas menores para poupar e investir fará com que os juros trabalhem a seu favor e assim terá um montante que no futuro te permitirá dar entrada no imóvel, tornando essa opção bastante vantajosa. A opção pelo consórcio irá gerar uma dedicação financeira para um propósito específico, ajudando em casos em que não se tem tanta disciplina para poupar, claro que junto a isso vem todos os custos elencados acima.
Uma análise completa do seu contexto será fundamental para uma boa decisão. Um planejador financeiro poderá te auxiliar a fazer este diagnóstico e te mostrar os caminhos possíveis de se seguir para a realização desse e dos seus outros objetivos de vida.
Thiago Sampaio é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 25 de setembro de 2017