Custo do carro extra vai além do juro do financiamento
Tenho 29 anos e minha esposa está esperando nosso primeiro filho. Temos pensado em comprar um carro que seja maior e também mais seguro do que o nosso, que ficaria como reserva em caso de emergências. Pelos que tenho visto, um carro do perfil que queremos custará por volta de R$ 65 mil, valor que não possuímos integralmente. Queremos nos planejar desde já para que o impacto no orçamento seja o menor possível. Quais as melhores alternativas de financiamento que podemos utilizar? B.L.
Valter Police Junior, CFP®:
Sua decisão de se planejar antes de uma aquisição tão significativa como a de um automóvel é louvável. Muitas famílias compram por impulso e passam anos com seus orçamentos tumultuados e dívidas crescentes. Existem três modos básicos para a compra de um veículo: Poupa-se até que o valor total seja alcançado e paga-se à vista, adquire-se um consórcio ou ainda financia-se (parte ou o todo).
Do ponto de vista financeiro, a melhor opção é a primeira, na qual os juros trabalharão a seu favor e baratearão a aquisição. Esta opção, no entanto, exige tempo e, principalmente, disciplina. O consórcio é uma alternativa intermediária em termos de custo, dado que não cobra juros. No entanto cobra taxas diversas que também encarecem a compra quando comparada à opção à vista, além de não permitir o ganho dos juros de um investimento. O problema com essa escolha é que não existe certeza sobre a data na qual se receberá o bem, já que depende de sorteio. Existe também a opção de lances, mas isso traz um risco já que, se todos os consorciados pensarem da mesma forma, o valor dos lances será proibitivo.
Nossa terceira opção é o financiamento, para o qual temos a certeza da entrega do veículo no ato e não temos a necessidade de ter o capital completo para a compra. Só que o preço a se pagar por estas comodidades não é nada pequeno e consumirá parte importante de seu orçamento por um razoável tempo – em média, 25% ao ano, ou 1,88% ao mês. Importante lembrar que devemos sempre pensar no custo efetivo total (CET) do empréstimo, que inclui não apenas os juros, mas também os impostos incidentes. Além disso, a famigerada TAC (taxa de abertura de crédito), que hoje possui muitos nomes, é cobrada na grande maioria dos casos e encarece a compra.
Ainda nesta opção temos o Leasing, que conta com a vantagem de não pagar o IOF e por esse motivo costuma ter um CET menor, embora não permita, a priori, a antecipação dos pagamentos das parcelas (existe uma discussão sobre isso).
Após esta análise, gostaria de convidá-lo a uma reflexão sobre o verdadeiro custo de um veículo. Colocarei aqui um exemplo de um carro de R$ 60 mil e convido o leitor a trocar os valores pelos seus próprios.
– Combustível: R$ 100 semanais, ou R$ 5.200 por ano
– Estacionamento e pedágios: R$ 90 por mês e R$ 1.080 por ano
– Manutenção e limpeza: 4% do valor do carro, ou R$ 2.400
– Seguro: mais 4%, R$ 2.400
– IPVA: 3% do valor do carro, R$ 1.800 (varia por Estado)
Até aqui creio que muitas pessoas fazem o cálculo, que já demonstra o tamanho da despesa (R$ 12.880 ao ano ou R$ 1.073 ao mês). No entanto, outras despesas são pouco lembradas, como o custo de oportunidade do capital (são os juros que o dinheiro renderia se a compra não tivesse sido feita), de 6% ao ano, ou R$ 3.600.
Há também a depreciação (o carro perde valor com o tempo, o que representa um custo, embora os recursos não saiam do orçamento no ato. Este valor varia muito (entre 5% e 25% ao ano), mas para quem fica com o carro mais de três anos, podemos considerá-lo de 10% ou R$ 6 mil.
Com mais estes R$ 9.600, o custo total do carro passa a ser de impressionantes R$ 22.480 anuais ou R$ 1.873 ao mês, sem considerar multas, pagamento da franquia do seguro e os custos do financiamento.
Assim, mais importante ainda do que a escolha da forma de aquisição do veículo é a análise de seu custo mensal real no orçamento para que se meça com frieza os benefícios advindos de um carro novo comparados à oportunidade de criar um poder de poupança que pode servir para que seus sonhos sejam conquistados no futuro.
Não restrinja a análise apenas às opções comprar / não comprar, mas a amplie para que seja abordada a necessidade real da manutenção de dois veículos e o valor que se quer colocar em um bem que se deprecia com tanta velocidade.
Valter Police Junior é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 10 de outubro de 2011.