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De que modo se ajustar financeiramente em um cenário de juros altos?

Os brasileiros estão muito mais acostumados a ver altas taxas de juros do que o contrário. De toda forma, é sempre bom repassarmos algumas estratégias em um cenário como o atual

Por Camila Nagem, CFP®

Os brasileiros estão muito mais acostumados a ver altas taxas de juros do que o contrário. De toda forma, é sempre bom repassarmos algumas estratégias em um cenário como o atual.

Uma das perguntas que os planejadores financeiros pessoais mais escutam refere-se à aquisição de imóvel próprio. O que é melhor: comprar um imóvel ou fazer um investimento? Essa é mais uma das perguntas que podem ser respondidas com um “depende”. Mas podemos analisar alguns cenários, para que você, leitor, possa fazer a sua própria análise.

Vamos começar com a situação em que uma pessoa não possui os recursos para comprar um imóvel à vista e precisaria pegar um financiamento, complementando o valor da entrada que deve ser dada.

Assim como a taxa Selic, a taxa de financiamento imobiliário vem passando por um ciclo de elevação (porque todas as taxas de juros estão atreladas umas às outras) e é preciso levar isso em consideração. Ao se tomar um financiamento para a compra de um imóvel, há um comprometimento da renda familiar durante um período muito longo, cerca de 30 a 35 anos. Então, será um financiamento a uma taxa alta por muito tempo e qualquer imprevisto na renda da família (perda do emprego, por exemplo) que leve a atraso nas parcelas poderá trazer complicações futuras, como parcelas mais caras ou até a perda do imóvel.

Uma possibilidade é começar ou continuar poupando para dar uma entrada maior e diminuir a parcela financiada. Dessa forma, é possível aproveitar a alta dos juros e obter maiores rendimentos enquanto se aguarda uma situação mais propícia para tomar o financiamento.

Caso os recursos para comprar o imóvel à vista já estejam disponíveis, pode-se considerar o que faz mais sentido no momento: ter um imóvel próprio ou aplicar os recursos e obter um rendimento extra (fazendo seu dinheiro trabalhar para você).

A mesma avaliação pode ser feita para o financiamento de um veículo novo ou compras parceladas de bens para uso próprio. Já na situação em que a aquisição seja para obtenção de renda, como a compra de um veículo para trabalho ou de um equipamento para prestação de serviços, é importante fazer a conta para verificar se a renda gerada será suficiente para pagar as parcelas do financiamento e ainda sobrar algum recurso.

Outro cenário que se apresenta com a alta dos juros é enfrentar alguma dificuldade financeira e precisar endividar-se. É bom consultar as alternativas existentes. Procure saber se a empresa em que trabalha oferece algum empréstimo com taxas mais camaradas, se algum familiar pode te ajudar a passar por esse período complicado (nesse caso, pagar o empréstimo ou retribuir a ajuda de alguma outra forma é uma condição necessária para você manter a sua credibilidade), se é possível renegociar alguns compromissos futuros ou adiar alguns planos. É hora de deixar o orgulho de lado e procurar uma solução viável para esse momento delicado.

Dívidas junto a cartão de crédito ou cheque especial, embora sejam as mais rápidas, são consideradas as piores alternativas, devido às altíssimas taxas de juros praticadas. Avalie se existem outras contas que podem ser atrasadas antes de deixar de pagar a fatura do cartão ou entrar no cheque especial. Crédito consignado, que é aquele vinculado a alguma renda, costuma ter condições melhores.

Se a dívida já estiver instalada e for uma dívida bancária, é bom ficar atento aos feirões de renegociação de dívida. Durante o mês de março deste ano, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) promoveu um mutirão de negociação. Puderam ser negociadas dívidas no cartão de crédito, cheque especial, crédito consignado e demais modalidades de crédito em atraso com bancos ou financeiras.

É necessário avaliar a possibilidade de trocar uma dívida mais cara por uma com condições melhores, como taxas mais baixas ou prazos mais longos. Além disso, pensar em vender algum bem ou achar uma forma de obter uma renda extra temporária pode ajudar a resolver a situação. Existem planejadores financeiros especializados em dívidas que podem orientar e trazer boas ideias. O foco não é o julgamento, e sim resolver a situação.

Agora, se o caso é que há recursos sobrando, o que se tem a fazer é aproveitar essa alta. Existem diversas opções de investimentos atreladas à taxa de juros. Leve em consideração a liquidez do investimento (ter uma noção de quando vai precisar do dinheiro), a reputação da instituição financeira, se o investimento está coberto pelo Fundo Garantidor de Crédito, e o imposto sobre o investimento quando o resgate ocorrer. É possível encontrar a opção que melhor se enquadra ao seu caso.

Camila Nagem é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. Email: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não da Época Negócios ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.


Texto publicado na Revista Época em de 127 Junho de 2023.

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