Devo investir em renda fixa diretamente ou em fundos?
Por que investir em fundos de renda fixa se posso investir direto sem pagar taxa de administração?
Valter Police, CFP®, responde:
Imagine que você foi a um restaurante no qual você tem duas opções: ou você mesmo prepara sua refeição, usando os ingredientes disponibilizados pelo local, e só paga por eles, já que o trabalho de preparo é seu, ou você contrata um chef renomado que vai preparar a refeição para você, podendo usar os ingredientes que estavam à sua disposição além de alguns outros exclusivos para uso dos chefs.
É comum que os ingredientes custem menos para os chefs do que custariam para você, já que eles compram em grandes quantidades, só que escolhendo a segunda opção você pagará o custo dos ingredientes e o serviço do chef que preparou sua refeição.
Se você quisesse fazer apenas um misto quente, com ingredientes simples como pão, queijo e presunto, provavelmente escolheria fazer você mesmo sua refeição, diminuindo seus custos, até porque o serviço de um chef não acrescentaria muito valor. No entanto, se você quisesse algo mais sofisticado, como um filé Wellington ou o arriscado fugu (baiacu), peixe venenoso que se não for preparado da forma correta pode matar quem o comer, seria mais prudente contratar um chef, que conhece os detalhes dos ingredientes e dos preparos e usa sua experiência, conhecimento e recursos para que tudo saia da melhor forma possível.
Os investimentos funcionam assim, mas no lugar dos ingredientes estão os milhares de títulos no mercado. Alguns são simples e seguros, enquanto outros são complexos e arriscados. Alguns estão disponíveis para todos, outros apenas para profissionais. E os “chefs” são os gestores dos fundos, que preparam as carteiras com os títulos (ingredientes) que juntos compõem a estratégia rumo ao objetivo daquele fundo específico.
Então, se o seu objetivo de investimento for, digamos, acompanhar a taxa de juros com o menor risco possível, basta que sejam adquiridos investimentos que sigam essa taxa e sejam de fornecedores sólidos como o governo federal. Esse único ingrediente, simples e de baixíssimo risco, permite que você mesmo monte sua “carteira” e, nesse caso, talvez não valha a pena pagar um gestor para fazer isso por você.
No entanto, existem casos mais complexos e arriscados. Pense em uma carteira que tenha como objetivo superar a taxa de juros. Para isso poderão ser usados títulos públicos e privados de diversos fornecedores, cujos riscos precisam ser mais bem avaliados. Títulos pré-fixados, atrelados à inflação e a outros indicadores, além de cotas de fundos de investimento como FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios), também podem compor essa carteira. Ah, é necessário se atentar aos prazos de vencimento de cada título, que influenciam a liquidez e o risco. Em casos assim, a complexidade aumenta muito e nessas situações você deve avaliar se vale a pena contar com a ajuda de uma equipe de gestão profissional, pesando os custos e os benefícios.
Assim, quando pensar em como lidar com seus recursos, seja em renda fixa, seja em outros tipos, faça como na metáfora acima: se quiser fazer uma refeição simples e corriqueira, talvez passar no mercado, comprar os ingredientes que já conhece e ir para a cozinha seja uma boa opção, mas, se você quiser uma refeição mais complexa ou arriscada, buscar um profissional qualificado e de sua confiança, que vai entregar tudo pronto, é a melhor opção. Seja na alimentação, seja cuidando dos investimentos, às vezes, quando se quer economizar, o barato pode sair caro.
Valter Police é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 23 de agosto de 2021.