Consultório Financeiro

Dólar alto torna mais caro investir no exterior?

“A abordagem sobre investir no exterior é boa. Mas, no momento, com o alto valor do dólar, é vantajoso aplicar o dinheiro no exterior ou comprar papéis dolarizados? Não estaremos comprando muito caro?”

Gisele Colombo, CFP®, responde:

Falar sobre investir no exterior vai muito além de pensar no “investimento vantajoso agora”, porque envolve mais aspectos estruturais (efeitos de longo prazo) do que táticos.

Nenhum país no mundo reúne em seu mercado todas as melhores oportunidades, tanto é que os grandes e bem sucedidos investidores internacionais carregam, por décadas, investimentos distribuídos globalmente.

Se o seu objetivo é investir no exterior de forma bem estruturada e por longo prazo, mantendo uma parcela constante de seu patrimônio em outras moedas, deverá fazer isso para buscar oportunidades de investimento que não estão disponíveis no seu país de domicílio e que podem gerar bons resultados, tanto pelo retorno quanto pelo fator “correlação” (note que, mesmo durante a pandemia, os mercados se comportam de maneira diferente).

Buscando uma construção de portfólio embasada em um bom planejamento, que seja adequada ao seu momento de vida, seus planos e sua tolerância às inevitáveis variações de mercado, o preço “de entrada” que será pago pela moeda não será relevante.

No longo prazo, o preço relativo entre as moedas é resultado das diferenças entre crescimento e inflação, além do saldo das trocas de mercadorias, serviços e juros entre os países. Isso quer dizer que, conforme o tempo passa, se a moeda comprada se desvaloriza, a sua moeda de origem fica mais forte e vice-versa, havendo um efeito neutralizador.

Logo, para montar um investimento internacional que seja perene ou estrutural no seu patrimônio, não tente esperar o melhor momento para entrar, por essas razões já comentadas. A partir do momento que você decide investir no exterior, faça um planejamento para enviar recursos de tempos e tempos e atenuar o efeito do preço de compra.

Caso seu objetivo de investimento no exterior esteja relacionado à busca de oportunidades de curto prazo, o raciocínio já muda bastante, uma vez que o preço de compra da moeda estrangeira terá impacto relevante para o resultado de suas operações.

Entretanto, o mercado de câmbio talvez seja o mais complexo em termos de precificação, embora haja uma série de modelos matemáticos baseados em cenário econômico e indicadores que impactam diretamente a relação de valor entre moedas de dois países.

Essa complexidade ocorre porque fenômenos da natureza ou geopolíticos (por exemplo), não incorporados nos modelos de preços, provocam mudanças bruscas na procura por determinada moeda em detrimento de outras. E normalmente esses movimentos são de curto prazo.

Portanto, saber se o dólar hoje está “caro” não é um exercício trivial e investir no exterior pensando muito sobre o preço atual pode gerar retornos muito diferentes dos esperados para o curto prazo.

Reforço que investir no exterior deve ser uma decisão mais relacionada à busca de ativos diferentes daqueles disponíveis no seu país de residência do que simples arbitragem de preços entre moedas. Diversificação!

Por fim, estude as possibilidades. Apesar da infinidade de instrumentos e produtos financeiros disponíveis no mundo, há uma lógica universal confirmando que o maior retorno estará acompanhado, inevitavelmente, do maior risco. Seja aqui, seja bem longe.  Portanto monte uma carteira “com o seu jeito”, sem se preocupar exageradamente com os preços atuais, porque o futuro certamente será surpreendente

Gisele Colombo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 31 de agosto de 2020

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