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É hora de sair de investimentos da bolsa, com ela caindo ou andando de lado já há anos?

Essa situação pode ocorrer, por exemplo, quando uma pessoa perde o emprego e O que determina a hora de sair ou de entrar em qualquer investimento é a estratégia da sua carteira, que deverá levar em conta a sua necessidade de liquidez, o seu objetivo de aposentadoria e os seus projetos de vida não consegue mais pagar suas contas mensais, acumulando dívidas de cartão de crédito e de empréstimos pessoais

Por Clay Gonçalves CFP® responde:

Esta pergunta pode ter uma resposta objetiva, mas é muito importante explicar alguns conceitos. Precisamos falar sobre como o mercado financeiro se comporta e sobre como o seu planejamento financeiro se ajusta a esse comportamento.

O mercado financeiro tem um movimento interessante no que tange aos rendimentos da renda fixa e da renda variável. Eles funcionam como uma gangorra: quando um sobe o outro desce. Isso se deve a uma lógica da economia. A renda fixa é guiada pela taxa básica de juros, a Selic. De forma simplista, a Selic determina o custo de empréstimos concedidos por instituições bancárias. Podemos dizer que é o custo do dinheiro. O alto custo do crédito impacta as vendas das empresas e, consequentemente seus resultados financeiros. O que pode levar à desvalorização das ações destas empresas na bolsa de valores.

A forma como o capital das empresas é composta também contribui para essa desvalorização: pela dívida (empréstimos nas instituições bancárias) e pelo capital próprio (dinheiro dos acionistas). Quanto mais caro fica o crédito, mais “pesada” fica essa parcela de empréstimos na empresa.

Do ponto de vista dos investidores institucionais (fundos de investimento, por exemplo), o comportamento geral também faz com que a bolsa se desvalorize ainda mais. Num momento de alta da taxa Selic, eles preferem ter o dinheiro sendo investido na renda fixa, com baixo risco e alta rentabilidade, a ter os recursos na renda variável, que oferece mais risco. E que, no momento do recorte, está em desvantagem.

E do ponto de vista do investidor pessoa física? Como se comportar diante destes ciclos econômicos?

A pessoa física investe de maneira consideravelmente diferente dos investidores institucionais. Estes profissionais dedicam-se a esta atividade diariamente e possuem metodologia para fazer seus investimentos, seja do ponto de vista técnico, seja do ponto de vista de informação. Eles respiram isso! Outro fator é o volume de dinheiro e de liquidez (dinheiro disponível) que estes profissionais têm nas operações, que impacta o resultado e os faz estarem preparados para se movimentarem rapidamente nos ciclos de mercado.

Já na pessoa física, o cenário é diferente. Esse dinheiro é resultado de muito trabalho e deve ser cuidado com esmero, não dá para tomar decisões sem uma boa estratégia. Até a liquidez está parcialmente comprometida, o dinheiro disponível é para emergências. Adicionalmente, o dinheiro tem destino. Os investimentos estão atrelados aos objetivos de vida. Se o seu dinheiro não segue essa lógica, recomendo que reveja o seu planejamento financeiro.

A psicologia comportamental econômica já possui inúmeras evidências de que o que nos impede de investir com o foco em nossos objetivos é a necessidade de realizações de curto prazo que temos enquanto seres humanos. Quando você sonha com aquele carro novo, ou aquela viagem que você quer fazer nas férias, imediatamente experimenta o ímpeto de garantir que este sonho se torne realidade naquele momento. Muitas pessoas sucumbem a este momento e se endividam. Outras resolvem acelerar a realização destes sonhos por meio dos rendimentos dos investimentos.

O que já sabemos é que o nosso cérebro quer as realizações para ontem, ele se alimenta disso (do ponto de vista hormonal)! É nessa armadilha que você, que é só um ser humano, cai e começa a se entregar aos ciclos econômicos. Você (seu cérebro) está focado no curto prazo e perde a oportunidade de criar uma estratégia de longo prazo.

Uma carteira de investimentos da pessoa física deve priorizar:

Liquidez: dinheiro disponível para cobrir as despesas entre 6 e 12 meses em casos de emergência. Recomendamos que essa parcela seja um pouco mais generosa e sirva para oportunidades também. É a clássica reserva de emergência;

Aposentadoria: é necessário vencer o risco de longevidade, pois a nossa expectativa de vida está aumentando, precisamos estar prontos para aproveitar este bônus de vida com qualidade;

Projetos de vida: ao garantir proteção no curto prazo e superação do risco de longevidade, trabalhamos a realização dos projetos de vida de curto e médio prazos, aqui haverá espaço para mais risco.

Após estas breves explicações podemos partir para a objetividade da pergunta: o que determina a hora de sair ou de entrar em qualquer investimento é a estratégia da sua carteira, que deverá levar em conta a sua necessidade de liquidez, o seu objetivo de aposentadoria e os seus projetos de vida. Oportunidades deverão ser aproveitadas com a parcela de liquidez disponível. A parcela destinada à renda variável deve seguir uma estratégia que considere o desempenho das empresas no longo prazo.

Compreendendo o comportamento do mercado, o comportamento humano e a estratégia de carteira diversificada por meio de objetivos em seu planejamento financeiro, a sua estratégia não ficará à mercê de movimentos do mercado, ao contrário, eles servirão para que você possa aproveitar oportunidades que surjam destes movimentos.

Clay Gonçalves é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

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Texto publicado na Revista Época em de 13 Junho de 2023.

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