Empréstimo ou reserva de emergência para fazer uma reforma?
Tenho que fazer uma reforma na minha casa. Melhor pegar um empréstimo ou usar minha reserva de emergência para uma reforma?
Marcelo Luis Milech, CFP®, responde:
A reserva de emergência é um dos pilares do planejamento financeiro. A sua formação é a base para que uma família possa se defrontar com as incertezas.
A reserva de emergência deve ser, preferencialmente, um montante que cubra de 6 a 12 meses das despesas médias de uma família. A aplicação dessas reservas deve ser feita em produtos financeiros de baixo risco e alta liquidez, evitando a volatilidade de ativos mais arriscados.
Essa quantia permite superar eventos como demissão e desemprego prolongado, doença ou incapacidade temporária, redução brusca de atividade profissional, além de outras condições que não podem ser previstas a priori.
Uma reforma na casa pode utilizar a reserva desde que a família, ou a pessoa, já tenha acumulado patrimônio superior ao da reserva de emergência, já que esse é um evento voluntário não urgente.
Outro argumento que justificaria o uso da reserva é o comparativo de quanto ela pode render versus a taxa de juros cobrada ao tomar emprestado o valor necessário.
Com base nas condições atuais da Selic, uma aplicação conservadora que rendesse 100% do CDI pagaria 5,25% a.a. antes dos impostos. A poupança rende, neste momento, menos de 4% a.a.
Em média, segundo dados da Anefac, as taxas de financiamento bancário foram de 5,5% a.m. em 2020, ou 90% a.a. Ou seja, o custo do endividamento é quase 20 vezes superior ao que se pode ganhar com a remuneração média dos investimentos.
A magnitude dessa diferença já diz tudo. Mesmo linhas mais acessíveis, como crédito consignado (aquela modalidade que é garantida por algum tipo de salário estável, notadamente o dos servidores públicos), ou linhas do chamado “home equity” (com garantias imobiliárias) não são comuns por menos do que 20% a.a. para pessoas físicas.
Há outros aspectos que devem ser levados em conta nessa decisão. Em primeiro lugar, nenhuma reforma deve ser cogitada num imóvel que não seja próprio, já que a benfeitoria vai ser incorporada ao bem do proprietário.
Em seguida, a capacidade de reconstituir a reserva deve ser pensada. Se a pessoa não vive um momento profissional estável, ou os riscos da economia naquele momento são maiores, como agora numa pandemia, essa decisão deve ser adiada.
O compromisso de refazer o “colchão” de segurança anterior é determinante, e a melhor forma de fazer isso é conhecer, registrar e acompanhar o orçamento da família.
Isso requer a contabilização regular das despesas que a família tem, incluindo aqueles gastos que não são mensais, como IPVA, IPTU e seguros, por exemplo.
As receitas da família também devem ser acompanhadas, e o resultado vai permitir refazer a reserva de emergência, num espaço de tempo determinado, se houver disciplina com o orçamento.
Nada do exposto é uma grande novidade, mas os detalhes e a execução desse planejamento são um desafio.
Na profissão de planejador financeiro é usual lidar com uma realidade que muitas vezes caminha no sentido contrário, com muitas famílias cronicamente endividadas. Dados da pesquisa de endividamento das famílias levantados pelo PEIC da CNC, em junho de 2021, mostram que 65% têm alguma dívida, e quase 20% têm contas ou parcelas em atraso.
Exatamente por falta de controle, muitas famílias tomam decisões de consumo por impulso e não conseguem identificar os riscos de antecipar uma despesa não prevista no seu orçamento.
Em linhas gerais, o gasto com um valor não orçado pode ser realizado desde que a pessoa tenha o seu planejamento patrimonial e financeiro devidamente embasado, com a reserva de emergência constituída e um portfólio de investimentos que tenha por objetivo de longo prazo garantir uma renda na aposentadoria que mantenha a qualidade de vida daquele indivíduo. Um montante de gastos fora desses parâmetros que extrapole os limites da reserva ou que gere endividamento deve ser evitado.
Marcelo Luis Milech é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 12 de outubro de 2021.