ETFs de renda fixa são uma boa opção de investimento?
Estou curioso com o recente lançamento de ETFs de renda fixa. Queria saber para quais perfis e situações eles se adéquam.
Jean Marcio, CFP®, responde:
ETFs ou fundos de índice são um veículo de investimento em evidência crescente. No Brasil números da B3 expressam isso, a exemplo do volume anual de transações já superior a R$ 1 trilhão a partir de 2020.
Prosseguindo, esses fundos com cotas negociáveis via home broker apresentam inequívocos atrativos, como a aderência a benchmarks de mercado e a capacidade de viabilizar ampla diversificação, em uma gama que vai dos criptoativos, passando por alternativas em ações, até chegar à renda fixa.
Nesta última classe, só mais recentemente contemplada pelos ETFs domésticos, predominam ainda ativos lastreados por títulos federais. Seja como for, de largada já é possível identificar uma vantagem na operação com tais valores mobiliários em comparação com a negociação direta de obrigações públicas, qual seja a inexistência de encargo de custódia da bolsa para manutenção de posições. Ao lado disso, as taxas de administração nesses fundos têm patamares correntes em torno de 0,3% a.a., enquanto a média atual está próxima de 0,9% a.a. para fundos de renda fixa em geral (conforme indicam relatórios da ANBIMA).
Ainda, não pode deixar de ser mencionado o aspecto da tributação. É interessante notar que, mediante a normatização atual, tais fundos são taxados pelo Imposto de Renda (IR) na fonte em função da maturidade de suas carteiras. Na prática o que acontece é a composição de ETFs com duration maior que 720 dias, o que resulta em IR na faixa mínima de 15% desde o começo das aplicações, algo comparável a inversões em renda fixa acima de dois anos.
Sobre tais ETFs consta mais um caractere essencial: a capacidade de sintetizar em uma única unidade de ativo o que seria equivalente à alocação em cestas de títulos do Tesouro Nacional, como aqueles corrigidos por “IPCA + juros”, ou só prefixados. Em um ambiente doméstico sujeito a aguçada volatilidade mesmo na renda fixa, com movimentos de marcação a mercado impulsionados por risco fiscal, querelas políticas, economia frágil e níveis maiores de inflação e juros, essa forma prática de combinar tipos de rendimento é mais um diferencial a ponderar em eventuais aplicações.
Por essas e outras, então, é provável que alternativas em ETFs de renda fixa se expandam e até viabilizem, com o aumento de sua liquidez, a adoção de operações estruturadas mais sofisticadas, tomando-se proveito das viradas de tendência no mercado de juros. De qualquer sorte, a alocação nesses ETFs, mesmo na perspectiva passiva, tem potencial para entregar bastante; destacam-se nisso sua capacidade de reduzir encargos de investimento e, ao mesmo tempo, aprimorar a diversificação mesmo com menos capital, o que é valioso sobretudo para estratégias mais conservadoras ou moderadas em geral.
Portanto, caro leitor, não deixa de ser muito válido considerar a presença de ETFs de renda fixa em seu plano de investimento, uma alternativa que alia simplicidade operacional e eficiência financeira. Nesse sentido pode ser pertinente, por fim, contar com ajuda qualificada para identificar se tal investimento é apropriado ao seu perfil e a seus objetivos.
Jean Marcio de Mélo é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 18 de janeiro de 2022.