Fui demitida. Como investir minha rescisão?
Alexandre Amorim, CFP®, responde:
Apesar de uma demissão normalmente ser um momento delicado para todo trabalhador, o fato de você estar pensando em investir a sua rescisão é um ótimo sinal! Uma das primeiras recomendações de um bom planejamento financeiro é estar preparado para eventualidades como essa e, ao que tudo indica, você estava.
Para poder dar uma boa recomendação sobre o que fazer com a sua rescisão, seria necessário conhecer mais detalhes a seu respeito. Cada pessoa é diferente da outra e não existe uma fórmula mágica que valha para todos, ou seja, não existe ‘o melhor investimento’, mas sim o melhor investimento para cada tipo de investidor.
Uma boa recomendação de investimento deve levar em consideração uma série de variáveis e a primeira delas é o objetivo do investimento. Objetivos de longo prazo normalmente permitem que se assuma mais riscos e se utilize investimentos mais voláteis e, com isso, se busque maiores retornos. Já para os objetivos de curto prazo é necessário maior cautela e a busca por investimentos com retornos mais previsíveis.
Em seguida, deve-se ponderar o objetivo com seu perfil econômico e psicológico, ou seja, com critérios que vão desde o momento de vida em que você se encontra, sua estrutura familiar, capacidade de geração de renda, dependentes, até a forma como você lida com a possibilidade de oscilação e até mesmo de perdas. Apenas depois disso tudo será possível dizer qual o melhor conjunto de investimentos que melhor se adequará a você.
Mas algumas recomendações podem ser feitas. Neste momento de vida, é essencial que você pense no período de transição de carreira. Imagine quanto tempo levará para você voltar a ter renda suficiente para cobrir suas despesas e dimensione (com uma boa margem de segurança) quais serão suas despesas nesse período. Leve em conta também a necessidade de algum gasto adicional, como o pagamento de cursos de atualização, especialização ou até mesmo head hunters. É muito importante que o valor necessário para que você passe este período esteja disponível na hora que for necessário e que não se corra nenhum risco de perdas. Portanto, deve-se buscar investimentos mais seguros, com rentabilidade vinculada ao CDI e com possibilidade de resgate imediato. Pode ser um fundo DI, Tesouro Selic ou até mesmo a poupança.
Além disso, para realmente ter bastante tranquilidade, busque manter também uma reserva para eventualidades, conhecida também como reserva de segurança. Tente manter, além do valor necessário à transição, ao menos o valor equivalente a mais seis meses de despesas, também alocados no mesmo tipo de investimento. O valor necessário para a reserva de segurança é muito pessoal, portanto, caso ache necessário, aumente esse prazo.
Depois disso, é hora de começar a pensar nos objetivos, que podem ser de curto, médio e longo prazo. Pode ser o ano sabático, o curso no exterior, o imóvel próprio, ou até mesmo a independência financeira. Para cada um deles, há uma estratégia diferente. Depois de definido o objetivo, será necessário fazer uma avaliação do seu perfil para, enfim, poder montar uma carteira de investimentos adequada. Quanto maior o prazo de investimentos, maior capacidade você terá para correr riscos e, portanto, poderá buscar investimentos com maior objetivo de ganhos. Lembrando que, especialmente nos investimentos de longo prazo, se busque rentabilidade real, ou seja, os ganhos da carteira devem superar a taxa de inflação.
Vale ressaltar também que esse período de transição de carreira normalmente exige alguns cuidados em relação ao orçamento familiar. Aproveite esse tempo para rever suas despesas e montar um bom controle financeiro, como se fosse um fluxo de caixa. Conhecer as despesas é essencial para uma boa saúde financeira. Também, conhecendo as despesas, é sempre possível fazer alguns cortes de gastos supérfluos ou que não lhe tragam satisfação pessoal. Dessa forma, talvez você possa diminuir suas despesas sem renunciar ao seu padrão de vida.
Como se vê, investir é coisa séria e ter o apoio de um profissional isento e especializado pode fazer muita diferença, especialmente no longo prazo.
Alexandre Amorim é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site EpocaNegocios.globo.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.
Texto publicado originalmente no site Época Negócios em 14 de agosto de 2018.