Consultório Financeiro

Fundos parecem todos iguais. Como escolher?

Como escolher um fundo de investimento quando a rentabilidade de todos é tão próxima?

Fredy Tavares, CFP®:

Esse tipo de dúvida é bastante comum entre os investidores. Diversas métricas podem ser utilizadas para responder a esse tipo de pergunta, e as mais comuns procuram encontrar uma relação entre o ganho proporcionado pelo fundo e o seu risco. A mais citada foi criada por William Sharpe em 1966 e ficou conhecida como Índice de Sharpe.

A ideia é bastante simples. Primeiro é realizada a subtração do retorno médio do fundo de investimento do retorno médio de seu “benchmark” (indexador de referência):

Retorno Médio do Fundo – Retorno Médio do Benchmark

É importante entender essa conta. No Brasil, geralmente usa-se o CDI como indexador de referência, que, por ser muito próximo da taxa Selic, é considerado como o retorno livre de risco. Ou seja, seria o retorno que o gestor poderia obter sem incorrer em maiores riscos. Também pode ser analisado o que o investidor obteria sem correr riscos ou o seu custo de oportunidade. Não é bem assim, já que nem todos os investidores conseguem ganhar 100% do CDI, mas é essa a metodologia utilizada para fundos com esse “benchmark”.

Dessa forma, fica mais fácil compreender a primeira parte da equação. Se a conta der positiva isso quer dizer que o fundo está entregando mais retorno que o “benchmark”. Se o resultado for menor, a conclusão inicial é que o fundo não está conseguindo retornos maiores que sua referência e a análise termina nesse ponto. Não se calcula Índice de Sharpe quando o fundo não supera seu “benchmark”.

A segunda parte da equação consiste em identificar o “custo” desse retorno:

– Índice de Sharpe = (Retorno Médio do Fundo – Retorno Médio do Benchmark) dividido pelo Desvio Padrão dos Retornos do Fundo

O desvio padrão dos retornos do fundo é o que o mercado costuma chamar de risco ou volatilidade. É uma forma de verificar o quanto os retornos do fundo oscilam, ou distanciam-se de sua média. Quanto maior esse número, maior é o risco do fundo. Ou seja, num fundo com grande desvio padrão, a variação dos seus retornos é maior e, portanto, menor a possibilidade de se saber qual será a sua rentabilidade final.

A ideia fica mais simples quando usamos exemplos reais. Os fundos DIs geralmente apresentam retornos diários muito parecidos, alguns trabalham quase como um relógio. Por outro lado, é impossível verificar esse mesmo comportamento num fundo de ações. Logo, quanto maior a volatilidade dos retornos do fundo, maior o seu risco.

Portanto, quando se divide o retorno excedente do fundo frente o seu “benchmark” pela sua volatilidade encontramos a relação retorno x risco. Quanto maior esse resultado, mais eficiente é o fundo e melhor será o seu Índice de Sharpe.

Com esses dados também é possível identificar o quanto do indexador de referência o investidor poderia ter perdido no período analisado. Para tanto, basta dividir o desvio padrão do fundo pelo retorno médio do indexador.

Um aspecto fundamental é comparar os produtos de forma correta. Não é adequado comparar um multimercado com ações e alavancagem com um fundo DI, ou fundo de ações com renda fixa. O ideal é comparar fundos de mesma categoria ou nível de risco similares. Quanto ao histórico de dados utilizados o ideal é trabalhar com prazos de ao menos seis meses e no máximo um ano para evitar que as mudanças de estilo de gestão deixem de ser capturadas.

Por fim, o investidor deve sempre ter em mente que os resultados do Índice de Sharpe são realizados a partir de dados passados e que não é possível prever o comportamento do fundo no futuro. O índice, portanto, é uma boa métrica para avaliar a qualidade do gestor no passado e a assiduidade de boas performances.

Fredy Tavares é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 09 de julho de 2012.

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