Hoje em dia, vale mais a pena comprar ou alugar um imóvel?
A decisão de comprar ou alugar um imóvel vai levar em conta um equilíbrio entre os aspectos financeiros, emocionais e práticos
Por Roberto Cazzetta, CFP®
A decisão de comprar ou alugar um imóvel vai levar em conta um equilíbrio entre os aspectos financeiros, emocionais e práticos. É preciso saber qual é a prioridade da família: optar por algo que é financeiramente mais vantajoso? O desejo de ter um imóvel próprio? Ou até mesmo questões logísticas e planejamento de carreira.
Começando pelo aspecto financeiro, a decisão passa por entender a relação entre preço do imóvel, custo do aluguel e qual a taxa que é possível obter em um investimento de baixo risco, como um título público federal remunerado pela Taxa Selic (a taxa básica de juros do país, que representa a remuneração básica que um investidor consegue ter com segurança e liquidez).
Outro ponto importante é entender se a família tem o valor para comprar o imóvel à vista ou precisará financiar uma parte. Supondo que a família tenha disponibilidade para pagar à vista e que o valor seja de R$ 500 mil, existem duas perguntas a serem feitas: qual o custo de um aluguel mensal de um imóvel do mesmo padrão e na mesma localização? E qual a rentabilidade mensal que consigo ao aplicar o dinheiro em um investimento de baixo risco?
Digamos que o custo total para locar o imóvel seja de R$ 2.500 por mês. Considerando o histórico de juros da última década no Brasil (fonte: Calculadora do Cidadão, BACEN), é possível conseguir uma rentabilidade mensal média de 0,72%. Isso quer dizer que, aplicando-se o dinheiro da compra em um investimento de baixo risco, tem-se um rendimento mensal de R$ 3.600. Nesse cenário, a locação seria a opção financeiramente mais atraente.
O ponto de atenção é que a taxa de juros no país é variável, então nem sempre essa rentabilidade conseguirá ser atingida. Uma alternativa seria investir em títulos com taxa fixa (pré-fixados) ou corrigidos pela inflação mais uma taxa fixa (indexados à inflação), por meio dos quais é possível garantir uma rentabilidade previsível por mais tempo.
Além disso, anualmente, ocorre o reajuste do aluguel pela inflação (geralmente o IGP-M), e isso pode fazer com que, em algum momento, o custo do aluguel “empate” ou fique acima da rentabilidade do investimento. Esse risco é reduzido se você não precisar mexer no investimento, pois o efeito dos juros compostos (juros sobre juros) vai fazer com que o capital suba acima da inflação na maior parte do tempo.
Mesmo com o cenário apresentado anteriormente, também é preciso avaliar o potencial de valorização do imóvel, uma vez que ele pode ser superior à rentabilidade do investimento feito em juros. Entretanto, analisando o índice FipeZap (fonte: fipe.org.br), na cidade de São Paulo, os imóveis valorizaram somente 3,89% ao ano na última década, perdendo inclusive para a inflação oficial (índice IPCA, medido pelo IBGE e disponível em ibge.gov.br/ipca), que foi de 6,09% ao ano. Esses dados são uma estimativa e podem variar conforme a localidade, mas indicam que a valorização de um imóvel segue mais ou menos a inflação média.
No entanto, quando se fala de planejamento financeiro, nem sempre se deve olhar somente para o lado financeiro, mas também para o lado emocional e prático das decisões. Por exemplo, se a melhor decisão financeira é locar o imóvel, mas a família sempre teve um sonho, um desejo de ter um imóvel de sua propriedade, para que possa decorá-lo, reformá-lo sem se preocupar se o contrato de locação vai ser renovado; ou ainda, caso a família ache que não terá a disciplina necessária para manter o capital rendendo sem mexer nele, afetando o plano financeiro de investir para cobrir o aluguel, então a compra pode ser a melhor escolha sob o ponto de vista comportamental.
Por outro lado, quando comprar é a melhor opção financeira, porém a família está num momento inicial de carreira, em que mudar de endereço pode ser muito vantajoso para o crescimento profissional; ou ainda, se a família pretende ter filhos no futuro, o que significa que a logística vai ser um fator importante e uma mudança pode ser necessária, nesse caso a locação pode ser a melhor decisão estratégica em termos de planejamento familiar.
Escolher entre comprar ou alugar um imóvel envolve diferentes fatores a serem avaliados que devem ser personalizados de acordo com os objetivos e desejos de cada família. De acordo com a Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (planejar.org.br), o planejador financeiro precisa ter um conjunto de habilidades que envolve não só o conhecimento técnico, mas também saber avaliar o conjunto e o contexto de cada família para orientar na melhor recomendação. Por isso, da mesma forma que se busca um profissional quando há uma situação que envolva saúde, questões jurídicas ou de negócios, por exemplo, é aconselhável procurar apoio profissional para uma importante decisão financeira.
* Roberto Cazzetta é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado na Revista Época em de 18 Julho de 2023.