Invisto em renda fixa. Vale a pena investir na bolsa?
Valter Police, CFP®, responde:
O momento atual é mais do que oportuno para sua questão. Os juros básicos da economia (taxa Selic) estão na mínima histórica e com perspectivas de mais quedas em um futuro próximo.
Com esse novo cenário econômico, os investimentos em renda fixa, os preferidos dos investidores brasileiros, não mais trarão os retornos com os quais estávamos todos acostumados. Para se ter uma ideia, no cenário previsto para o final deste ano, um investimento que renda 100% da taxa DI terá um retorno real (depois de descontada a inflação) e líquido (depois do pagamento do IR) de apenas 0,84%* ao ano – isso mesmo – menos de 1% AO ANO!
Se estivermos falando de investimentos voltados para o curto prazo, como a reserva de emergência, cujas características desejadas são altíssima liquidez e baixíssimo risco, a rentabilidade é um fator secundário e os investimentos para esses fins devem continuar nos veículos com essas características, embora com rentabilidades menores.
Já quando falamos de objetivos de prazos maiores, essa análise é diferente. Quanto maiores os prazos, mais relevantes são os retornos dos investimentos e, sendo assim, fazer boas escolhas pode significar chegar onde se deseja ou ficar pelo caminho.
Em especial, quando pensamos no planejamento para a aposentadoria, que conta com prazos de décadas, o foco em veículos com maiores expectativas de retorno é fundamental, dentro do perfil de risco de cada investidor, uma vez que, em geral, a relação risco X retorno é válida: maiores riscos, maiores expectativas de retorno.
Veja o exemplo comparativo, de quantos anos são necessários para se alcançar R$1 milhão (a valores de hoje), tendo um investimento inicial de R$100 mil e guardando R$1 mil por mês, conforme os retornos anuais reais e líquidos, no eixo da esquerda.
A diferença de resultado é brutal, conforme melhoramos as rentabilidades.
Sendo assim, de forma prática e após ter sua reserva de emergência constituída em um investimento seguro e líquido em renda fixa, o ideal é que você diversifique seus demais investimentos, utilizando outras classes de ativos, como renda variável ou fundos multimercado.
O problema é que com a diversificação e a utilização de investimentos mais complexos, algumas situações serão diferentes das que você está acostumado.
A primeira delas é se habituar com o sobe e desce do mercado. Em classes de ativo como renda variável, é comum que existam meses (ou mesmo anos) com resultados negativos. Essa oscilação faz parte da dinâmica do mercado e entendê-la vai te ajudar a tomar melhores decisões. Por esse motivo é fundamental que os investimentos sejam feitos respeitando o seu perfil de investidor, que será avaliado por seu fornecedor de serviços de investimento.
Outro ponto fundamental é a questão das escolhas dos investimentos. Optar entre fundos DI, CDBs de grandes bancos ou Tesouro SELIC é razoavelmente fácil. Quando ampliamos o olhar para outros tipos de ativos, as opções se multiplicam, assim como as dificuldades para as análises.
Assim, é cada vez mais importante contar com o auxílio de profissionais capacitados tecnicamente, com registros nos órgãos competentes, nos quais você confia e que, preferencialmente, trabalhem em um modelo de negócios no qual haja alinhamento entre os seus interesses e os dele.
A montagem de uma boa carteira diversificada de investimentos traz uma complexidade que está bem acima da capacidade de quase todos os investidores individuais, mesmo aqueles que estudam e leem relatórios especializados.
Desta forma, a resposta para sua pergunta não é tão simples, mas refletindo sobre suas condições financeiras, perfil de investidor, objetivos e confiança em seus fornecedores, você chegará na resposta que busca.
A era na qual a renda fixa reinava soberana no Brasil acabou – esperamos que para sempre. Precisamos agora fazer novas reflexões e termos atitudes e comportamentos diferentes daqueles com os quais nos acostumamos. Como toda mudança, ela trará algumas dores, mas no final, os resultados tenderão a nos levarão mais próximos dos nossos objetivos financeiros e, em última análise, de vida.
Boas mudanças e boas escolhas!
Valter Police é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 27 de agosto de 2019.