Meu filho tem 7 anos. Vale a pena investir em criptomoedas pensando em custear a faculdade dele?
Ativos de renda variável, como ações e criptomoedas, não são os mais recomendados quando há a pretensão de uso do capital em uma data pré-definida
Marcos Rodarte CFP®, responde:
Começar a poupar cedo para a faculdade de uma criança é uma das melhores formas de planejamento financeiro para custeio do curso, pois há um bom prazo para acumulação de capital até o ingresso do filho na universidade, o que permite pequenos aportes mensais para atingir o objetivo financeiro. Porém, ativos de renda variável, como ações e criptomoedas, não são os mais recomendados quando há a pretensão de uso desse capital em uma data pré-definida.
Por mais que o prazo para acumular recursos seja razoável, superior a dez anos – considerando o início do curso aos 18 anos do filho –, as criptomoedas possuem alta volatilidade, ou seja, uma elevada variação de preços, sem garantia de retorno, o que não garante a certeza de que, até o início da faculdade, o saldo acumulado será o suficiente para arcar com as despesas do curso. Inclusive, o investidor pode sair com valor inferior ao investido, comprometendo, assim, o orçamento destinado para o pagamento dessa faculdade.
O investimento mais recomendado para os objetivos com prazo e destino certos é a renda fixa, pois possui rentabilidade definida e baixo risco de perda do capital. Esse grupo inclui títulos como Tesouro Direto e títulos de bancos como CDBs, LCIs e LCAs. Títulos emitidos por empresas de grande porte, como os CRIs e CRAs, também são boas opções.
Os títulos de renda fixa pré-fixados e os indexados à inflação com vencimentos compatíveis com o início da faculdade da criança podem ser os mais utilizados para o acúmulo do capital necessário.
Nos títulos pré-fixados, você já sabe exatamente a taxa de rentabilidade anual e o quanto vai receber no vencimento, enquanto nos títulos indexados à inflação o retorno final será a variação do IPCA do período do investimento somada a um juro (chamado de cupom), definidos no momento da compra.
Atualmente, os títulos de renda fixa pré-fixados estão com rentabilidade superior a 13% a.a. e os indexados à inflação pagam IPCA + 6% a.a., com diversos vencimentos. Portanto, constituem-se em boas opções para acumular recursos.
Os papéis indexados à inflação podem ser bastante úteis para mensurar o valor necessário para cumprir objetivos de longo prazo, pois, dado o efeito da inflação, o valor para custear o curso daqui a pelo menos dez anos será maior do que a soma exigida hoje.
Caso, por exemplo, o valor da mensalidade da faculdade seja R$ 2 mil, temos um total de despesas de R$ 96 mil para um curso com quatro anos de duração. Com a rentabilidade de 13% acima mencionada nos papéis pré-fixados, é possível investir um valor de R$ 350 mensais durante 132 meses (onze anos) para acumular R$ 96 mil. Importante ressaltar que a taxa de juros pode variar nesse período. Portanto, revisar o cálculo dos aportes mensais periodicamente – por exemplo, semestralmente – é de suma importância. Esse valor mensal pode ser dividido entre os títulos pré-fixados e indexados à inflação.
Investimentos em criptomoedas podem ser feitos como complemento de diversificação da sua carteira como um todo, para aquela parcela do seu capital destinada a aplicações de potencial de retorno mais elevado, porém com risco maior, e para o longo prazo. O potencial de retorno dessa classe de ativos é enorme, uma vez que as criptomoedas são tecnologias disruptivas. Contudo, devido a sua natureza volátil e comportamento incerto, não se podem investir recursos que já estejam comprometidos para pagamentos e despesas futuros.
O Bitcoin, por exemplo, principal e mais conhecida criptomoeda no mercado, apresentou variação positiva de 124% nos últimos cinco anos. Porém, no ano de 2022, o retorno foi negativo em 66%. Logo, a decisão de investimento não deve ser baseada em rentabilidade passada, pois não há garantia de que os números irão se repetir nos mesmos prazos.
Marcos Rodarte é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. Email: [email protected]
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