Seu Planejamento Financeiro

O que fazer com a restituição do imposto de renda?

Carlos Cardoso, CFP®, responde:

Em 29 de maio de 2020, foi liberado o primeiro lote da restituição do IRPF 2020, e os lotes seguintes foram creditados nas devidas contas dos colaboradores até 30 de setembro de 2020. O montante da restituição foi aguardado por muitos para fazer certos ajustes na sua situação financeira ou realizar a compra de algo, mas há quem fique na dúvida do que fazer com tal valor. 

O primeiro passo quando surgir a dúvida sobre o que fazer com o valor recebido na restituição é entender sua atual situação financeira: você possui dívidas? Já possui uma certa poupança? Caso você seja um cidadão endividado, comece buscando quitar suas dívidas, e a restituição será um bom auxílio nesse momento. É recomendado que priorize suas dívidas na seguinte ordem: de serviços essenciais; que envolvam bens (financiamentos ou empréstimos com garantias); com juros mais altos (cartão de crédito ou cheque especial); que possam negativar seu nome; com amigos e familiares. Em seguida, caso suas dívidas já estejam quitadas, é aconselhável que você tenha uma reserva de emergência; caso a sua reserva tenha sido prejudicada durante o período de pandemia, a restituição do IR pode ser um bom auxílio para reiniciar seu processo de poupança.

Agora, vamos tratar de uma pessoa sem dívidas e em uma fase da vida na qual já acumula certa quantia. Se for o seu caso, é essencial compreender o perfil de risco aceito por você, uma vez que cada pessoa, a depender da sua idade ou estabilidade financeira, vai estar mais ou menos disposta a correr riscos em determinada alocação. Focando tais critérios, podemos realizar as seguintes perguntas:

• Possuo experiência e conhecimento em investimentos?

• Qual o horizonte de tempo esperado para manter o investimento?

• Qual o meu objetivo?

• Qual a minha tolerância a risco?

• Qual a minha atual situação financeira e necessidade futura de recursos?

• Qual o meu patrimônio e qual a minha disponibilidade de capital?

Achou complicado pensar sobre as perguntas? Não se preocupe. Uma alternativa é pesquisar testes de suitability ou perfil de investidor na internet, sendo válido lembrar também que os próprios bancos de relacionamento ou corretoras oferecem esses testes. Após essa avaliação, você terá uma melhor noção do seu perfil, delimitando o nível de risco e rentabilidade do que você está disposto a investir.

Se você é uma pessoa conservadora nos seus investimentos, provavelmente estará mais disposto a investir em produtos de baixo risco, que possuam uma boa liquidez (para conseguir resgatar mais rápido o valor aplicado). É natural que esse tipo de pessoa já conheça a poupança, mas é bom saber que há alternativas de maior rentabilidade tão seguras quanto ou até mais seguras. Uma das primeiras alternativas é encontrar um produto com rendimento atrelado ao CDI, como por exemplo um CDB (Certificado de Depósito Bancário) de 100% CDI (onde este produto nem sempre oferece 100% do CDI, mas ainda assim pode ser uma opção melhor que a poupança), o Tesouro Selic através do Tesouro Direto ou um Fundo DI com taxa de administração bem baixa. Alternativas que podem também trazer uma rentabilidade um pouco acima do CDI são os investimentos em crédito privado (com alerta de que, pelo perfil conservador, os ativos têm que ser de excelente qualidade de crédito), como debêntures, CRA, CRI ou fundos que investem nesses ativos.

Partindo para outro perfil, o investidor com perfil moderado é a pessoa que tolera um pouco mais de risco a fim de conseguir uma rentabilidade igualmente maior. Menor liquidez e perdas controladas são aceitas, porém não se abre mão da proteção. Assumindo possuir um apetite moderado a risco, você pode investir parte da sua carteira em ativos de renda variável (ações, fundos imobiliários por exemplo) e em produtos de renda fixa ou em fundo multimercado.

Obteve perfil agressivo no teste? Já possui conhecimento em produtos financeiros? Esse é o momento para alocar sua restituição de maneira mais concentrada em ativos de renda variável, como ações, fundos imobiliários, ETF, opções e fundos de investimento em ações. Apenas lembre-se: você assumirá mais riscos, poderá ter perdas no curto prazo, mas seguindo premissas de controle de risco e alocação terá mais probabilidade de retorno no longo prazo.

Por fim, é válido lembrar que, para todos os perfis, “nunca deposite todos os seus ovos em uma mesma cesta”, ou seja, diversifique seus investimentos. Não se esqueça que você também pode investir em um dos melhores ativos: você mesmo! Esse dinheiro pode ser utilizado para aprimorar estudos, realizar uma capacitação ou especialização, ou ainda empreender. Só não se esqueça de sempre gerenciar o risco e o retorno esperado.

Carlos Cardoso é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 06 de outubro de 2020.

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