O que são carteiras administradas e como funcionam?
Alexandre Brito, CFP®, responde:
A carteira administrada é um serviço oferecido por gestoras de patrimônio para as famílias e investidores. Seu foco está atrelado às melhores práticas de planejamento financeiro. Isso envolve a contratação de uma equipe de profissionais para gerenciar os ativos do investidor de forma discricionária, alinhando a estratégia de alocação com o perfil de risco e os objetivos definidos. O serviço considera também o planejamento sucessório e tributário. Em um contexto econômico e financeiro cada vez mais turbulento, com leis e regimes tributários em constantes mudanças, cada vez mais as famílias vêm buscando o apoio de um time de gestores profissionais na administração dos seus recursos patrimoniais.
Na prática, o serviço de carteira administrada é firmado através de um contrato de gestão – por meio do qual o investidor cede poderes para a gestora de patrimônio administrar seus recursos, com base em seu perfil de investidor (suitability)e vinculado à chamada Política de Investimento Pessoal (Investment Policy Statement, IPS,no termo em inglês). Através desse IPS, o gestor de patrimônio e o investidor definem, de acordo com os melhores interesses do cliente, a estratégia de alocação recomendada (considerando uma definição de alocação estratégica e alocação tática), necessidade de liquidez, exposição a crédito privado, características específicas e parcela de custódia internacional, se for o caso.
Através do contrato de gestão, a instituição financeira vincula a gestora de patrimônio à conta de investimento detida pelo cliente. Uma das principais vantagens de algumas plataformas é que, ao terem seus recursos administrados por gestores de patrimônio (ou multi-family office), os investidores podem receber a devolução das taxas de comissão e comercialização de produtos financeiros. Esse benefício para as famílias decorre do fato de que o multi-family office é remunerado apenas por uma taxa de administração estabelecida no contrato de gestão. Por lei, não pode receber, nem de fato recebe, qualquer benefício ou compensação de instituições financeiras.
Esse modelo de atuação é importante não apenas como benefício financeiro aos investidores, mas, especialmente, para que haja um completo alinhamento de interesses nessa relação, ao passo que o gestor de patrimônio não recebe nenhum incentivo econômico em produtos, mas sim nos objetivos financeiros traçados pelo investidor em seu planejamento financeiro.
Nos EUA, esse modelo de gestão de recursos é chamado de fee-based e tem como essência a responsabilidade fiduciária do profissional, ou seja, o gestor de patrimônio deve prezar pelo interesse do cliente em primeiro lugar e sempre agir de acordo com esse princípio. No caso do modelo de distribuição, baseado em comissão de produtos financeiros, conhecido como broker-dealer, exige-se que o profissional oferte produtos de acordo com o perfil do investidor (suitability), mas não que, necessariamente, aja em conformidade com o melhor interesse do cliente.
Em pesquisa divulgada pelo jornal americano Financial Planning em agosto de 2024, pode-se observar que o modelo fiduciário (fee-based) ganhou considerável tração depois da Grande Crise Financeira de 2008, período em que os principais conflitos de interesse da indústria vieram à tona. Inclusive, fica evidente no relatório que, a partir de 2017, o modelo de gestão de patrimônio cresceu significativamente passando a ser o principal modelo em que os americanos investem seus recursos no mercado financeiro.
No Brasil, especialmente nos últimos três anos, o modelo fiduciário tem se consolidado como a forma de acesso ao mercado financeiro que mais cresce entre os investidores brasileiros.
Devido ao considerável crescimento tecnológico das plataformas, essa estrutura, que antes era restrita às grandes fortunas, passou a ser acessível às demais famílias e investidores.
Portanto, a carteira administrada é um dos principais produtos utilizados para gestão de patrimônio via um multi-family office, com modelo fiduciário, para atender seus investidores na administração dos recursos, tanto no Brasil quanto no exterior. Os benefícios são diversos, mas pode-se destacar: completo alinhamento de interesses, acesso a um time de profissionais na gestão e monitoramento do seu patrimônio, cashback das taxas de distribuição/comercialização dos produtos financeiros, transparência na forma de remuneração e acesso ao modelo de gestão fiduciária.
Alexandre Brito é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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