Consultório Financeiro

O sonho de velejar um ano pelo mundo na ponta do lápis

Meu sonho é tirar um ano sabático e viajar o mundo num veleiro, o que deve custar por volta de R$ 600 mil. Tenho um apartamento no valor de R$ 1 milhão, investimentos de mais ou menos R$ 500 mil que rendem líquido em torno de R$ 3.500,00 mensais. Se eu vender o apartamento para comprar o barco e investir o restante do dinheiro, quanto poderei dispor mensalmente para cobrir os custos da viagem? E, se meus gastos mensais forem de US$ 5 mil, por quanto tempo eu poderia viajar sem dilapidar o patrimônio? Na volta imagino vender o barco e alugar ou comprar outro imóvel para moradia, mas isso também vai depender de em quanto tempo conseguirei voltar ao mercado de trabalho. (M.M.)

Oswaldo Sena, CFP®:

Vamos considerar que você venda o apartamento e compre o barco pelos valores mencionados. A diferença, investida na mesma aplicação, eleva o saldo para R$ 900 mil. O rendimento líquido passa, proporcionalmente, para R$ 6.300 mensais.

Devemos considerar ainda, que o valor aplicado no barco sofrerá alguma redução, pois na hora da venda é bem provável que você tenha que aceitar um preço inferior (como ocorre com automóveis). Este ponto é crucial na avaliação. Vamos imaginar 20% menor que o preço pago, ou seja, a venda do barco resultaria em um valor de R$ 480 mil.

Usaremos 5,5% ao ano como taxa de inflação, tomando por base a média dos últimos anos.

No primeiro caso, se você usar o total do rendimento líquido durante toda a viagem, ao final de um ano você terá o mesmo valor do capital investido, porém o poder de compra estará reduzido devido à inflação no período. Se quiser compensar a inflação, mantendo o poder de compra, você deveria usar apenas os rendimentos reais – acima da inflação – de R$ 2.300 mensais. Nesse caso, o saldo final da aplicação ficaria em R$ 950 mil.

Somando os R$ 480 mil da venda do barco, isso resultaria num patrimônio final de R$ 1.430.000, contra o valor de R$ 1.582.500 caso o patrimônio inicial fosse apenas corrigido pela inflação. Ou seja, o custo da viagem dessa forma seria de R$ 152.600, ou o equivalente a 9,6% do seu patrimônio, além do rendimento real.

Na segunda pergunta você menciona gastos mensais em dólares (US$ 5 mil, ou algo em torno de R$ 8.500,00 no câmbio atual), em valores maiores que o rendimento mensal previsto na aplicação. Além disso, menciona que não deseja dilapidar o patrimônio. Vamos considerar o que ocorreria em 12 meses: o saldo final da aplicação ficaria em R$ 872 mil, contra R$ 950 mil se o capital fosse apenas corrigido pela inflação.

Somando os R$ 480 mil da venda do barco, isso resultaria num patrimônio final de R$ 1.352.000, contra o valor de R$ 1.582.500 caso o patrimônio inicial fosse apenas corrigido pela inflação. Ou seja, o custo da viagem dessa forma seria de R$ 230.000, ou o equivalente a 14,5% do seu patrimônio, além do rendimento real.

O seu sonho é maravilhoso e importante. Não seria razoável recomendar a redução dessa viagem para alguns poucos meses. Conseguir realizá-lo de maneira satisfatória é a chave da questão.

No entanto, os dados fornecidos são insuficientes para uma avaliação mais profunda. É necessário conhecer sua idade, conhecer melhor o valor das despesas mensais durante a viagem, o preço de venda do barco ao final, o tempo necessário para se recolocar no mercado de trabalho, o valor das despesas mensais (no retorno) enquanto não estiver trabalhando e sua capacidade de poupança futura.

Assim, seria possível chegar a um planejamento detalhado, com as ações necessárias para sua concretização no menor prazo possível e de forma a não comprometer a sua qualidade de vida futura.

Oswaldo Sena é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 21 de novembro de 2011.

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