Onde investir seu décimo terceiro?
Carlos Manuel Machado, CFP®, responde:
O tão esperado fim de ano chegou, e com ele as expectativas com relação ao décimo terceiro. O incentivo para novas aquisições de produtos através de anúncios e promoções seduzem o público alvo à novas compras o tempo todo, e com isso, muitos acabam gastando de forma inconsciente o seu décimo terceiro. Além disso, o resultado da falta de planejamento financeiro pode levar ao uso inconsciente do crédito e, dentre alguns produtos mais utilizados pelos tomadores, temos o CDC (crédito direto ao consumidor), o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, os dois últimos possuem custos superiores a 300,00% a.a.(trezentos por cento ao ano).
Por isso ressaltamos a prioridade em quitar todos os contratos de crédito, antes de começar a planejar investir, pois os juros das aplicações normalmente não superam ao dos empréstimos.
O avanço tecnológico permitiu a disseminação da informação e com isso, facilitou o acesso a diversos tipos de investimentos. As diferentes formas de se investir hoje se dão de forma democrática, e até pouco tempo, apenas grandes aplicadores tinham acesso. Existem inúmeras opções em plataformas abertas sem custos, com diferentes riscos e diferentes classes de ativos. Antes de definir a melhor opção é crucial focar o objetivo, prazo e seu perfil de investidor, pois o melhor investimento é o mais adequado às necessidades de cada indivíduo, os principais perfis de investidores são: conservador, moderado e agressivo.
Para quem decide investir o décimo terceiro dentro do perfil conservador existem os bancos emissores de LCI´s (Letra de Crédito Imobiliário), LCA´s (Letras de Crédito Agrícola), CDB´s (Certificado de Depósitos Bancário). Todos possuem como referência principal de remuneração à taxa CDI, taxa média praticada pelo mercado dentre as instituições, que tem influência indireta os juros básicos da economia (SELIC) e podem contar com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) limitado até R$ 250.000,00 por CPF, limitado a 1 milhão de reais pelo período de 4 anos. Ainda dentro do mesmo perfil, o investidor tem acesso à fundos de investimentos DI, Tesouro Selic, dentre outras opções.
Com a queda da taxa SELIC que atualmente está em 4,5% a.a. essa categoria tende a ficar cada vez menos atrativa, pelo fato desse ativo possuir como benchmark (índice de referência) o CDI – base de cálculo de remuneração negociada entre entidades financeiras que se baseiam na taxa básica da economia.
Com o cenário de juros baixos e estimativas de perdurar por um longo tempo, o investidor poderia optar por fundos multimercados. Essa categoria de fundos são uma categoria mista, que o próprio nome já remete (múltiplos mercados) a estratégia do fundo depende muito do gestor, o mesmo tem flexibilidade de gestão com mecanismos avançados para busca de maiores performances, os mais aderentes a esse tipo de perfil são entre moderados e arriscado.
A quem desejar maiores ganhos ainda, pode optar por perfil muito arriscado no qual está mais suscetível a variações de mercado, pois os ativos mais voláteis buscam entregar maiores retornos no longo prazo. Alguns exemplos são os fundos de ações que negociam ações (mínimo de 67% do total da carteira) na B3 (Bolsa de Valores São Paulo) e escolhem vários tipos ações ou estratégia para maiores retornos. A grande vantagem dos fundos de ações é que possuem uma equipe especializada gerenciando o risco e buscando maiores retornos. O que acaba sendo uma forma razoável para o cotista terceirizar todo o trabalho a uma empresa que faz uma administração profissional que o investidor pessoa física dificilmente conseguiria exercer pela falta de autonomia.
Caso o investidor prefira ou tenha algum tipo de conhecimento, o mesmo pode começar a investir ações de empresas e setores nos quais ele acredita no crescimento, além de analisar com cuidado o balanço da empresa, histórico, crescimento e governança corporativa. Esses são aspectos com características de análises fundamentalistas, que são os baseadas em tendências de comportamentos micros e macros, além do foco no longo prazo sem estimar ganhos imediatos, pois a cultura brasileira ainda é imediatista, pois estão em buscas de altos ganhos no curto prazo e sem risco o que é absolutamente impossível.
Importante ressaltar que a iniciativa de investir o décimo terceiro é sim bastante louvável, no entanto é preciso disseminar a prática de investir com frequência, possuir uma reserva de emergência/liquidez média mínima de seis meses de custos fixos, e pensar no longo prazo. Os maiores investidores se destacam por pensar em crescimento patrimonial mais consistente e busca pela liberdade financeira com foco no futuro. Além disso, é necessário desmistificar o fato de que investir é apenas para quem possui grandes volumes, existem aplicações com valores mínimos de R$ 30,00 no Tesouro Direto e aos poucos o investidor vai se beneficiando dos juros compostos, e evolui gradativamente sua carteira de investimentos, o primeiro passo já é metade do caminho andado, mas lembre-se de contar com apoio de especialistas do mercado para as melhores orientações, e nunca invista em algo não regulamentado pela CVM (Comissão de Valores Imobiliários) e nada que seja discrepante do seu perfil de risco aceitável.
Carlos Manuel Machado é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar). Email: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 31 de dezembro de 2019.