Os primeiros passos para negociar dívidas.
Fiquei desempregado por um período longo e tive problemas para pagar dívidas. Voltei a trabalhar e quero negociar minhas pendências, mas não sei por onde começar. Como saber se os juros cobrados estão corretos? Existe algum órgão público que possa me orientar?
Caio Glauco Araújo de Souza, CFP®, responde:
Caro leitor,
Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela sua conquista de recolocação no mercado de trabalho e também pelo desejo de regularizar a sua situação financeira.
O primeiro passo é a elaboração de um orçamento familiar. Isso pode ser feito por meio de uma planilha, e nela deve conter todas as entradas e saídas de recursos financeiros. Com este instrumento em mãos, você terá mais segurança na hora de negociar suas dívidas, pois saberá a sua realidade financeira, evitando assim assumir compromissos que comprometam a sua capacidade de pagamento.
Aproveite o orçamento e verifique possíveis “vazamentos” que possam consumir recursos, como gastos desnecessários, desperdícios, serviços contratados que possam ser reduzidos ou até mesmos cancelados.
Com relação às dívidas e por onde começar, faça uma lista de credores com informação dos valores das dívidas e as taxas das operações. Procure priorizar a renegociação ou até mesmo a regularização das dívidas que possuem o custo mais elevado.
O mercado financeiro brasileiro é um dos mais caros do mundo para tomadores, com taxas de juros médias, dependendo da operação de crédito, que ultrapassam os 400% ao ano.
Se precisar recorrer a crédito para a regularização das dívidas, fique atento aos prazos e taxas da nova operação. As condições são diferentes de instituição para instituição.
É importante se atentar para que a operação de crédito não comprometa toda a sua renda disponível, para que assim você possa ter fôlego para se recuperar financeiramente.
Também é comum, quando se permanece um certo período desempregado, o pagamento com atraso de compromissos com concessionárias de serviços, como água, luz, gás etc. É importante a regularização dessas contas, para que evitar o corte desses serviços.
Procure a instituição credora e manifeste o seu interesse em regularizar as dívidas e verifique a possibilidade de transformar todas as dívidas em uma só, com uma taxa de juros menor. É interessante verificar em outras instituições a possibilidade de portabilidade de suas dívidas com taxas de juros menores.
Respondendo a sua pergunta acerca dos juros cobrados, o Banco Central (BC) disponibiliza em seu site informativo sobre as taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras nas suas operações de crédito. Se a taxa de juros de sua operação está acima das informadas pelo BC, provavelmente deve haver algo de errado, e é bom ligar o alerta. Consulte os órgãos de defesa do consumidor para mais orientações.
Os Procons têm realizado um excelente trabalho junto aos consumidores, com relação ao endividamento, por meio de orientações, palestras, cartilhas entre outras atividades. Em alguns Estados, por exemplo, são promovidos mutirões de negociação de dívidas, com o intuito de facilitar o acesso dos devedores aos seus credores. Procure em sua cidade, ações como esta.
Aproveite este novo momento em sua vida profissional para viver o novo também em sua vida financeira. Evite gastos desnecessários, compras por impulso, fazer novas dívidas e comece uma reserva financeira para que quando os imprevistos vierem você esteja preparado.
Sucesso e até a próxima.
Caio Glauco Araújo de Souza é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 13 de agosto de 2018