Seu Planejamento Financeiro

Pagar aluguel do imóvel ou melhor financiar e investir?

Pagando aluguel de um imóvel, não consigo guardar dinheiro. É melhor financiar

“É muito comum ouvir especialistas dizendo que é melhor alugar um imóvel do que comprar. Entendo que o financiamento envolve juros e que a melhor opção seria investir o dinheiro. A questão é que se eu pagar aluguel, não terei como economizar para investir e comprar um imóvel no futuro. O que devo fazer?”

Orlando Niegski Neto, CFP®, responde:

Comprar um imóvel é um ato que deve ser planejado. Para auxiliar na tomada de decisão, a primeira análise que pode ser feita é: quanto tempo quero levar para concretizar este objetivo? Outra questão importante se refere ao seu ciclo de vida, por exemplo: se tem ou pretende ter filhos, se irá morar sozinho ou acompanhado, e se há possibilidade de mudar de bairro, município, estado ou até mesmo de país por motivos profissionais.

Podemos aproveitar este momento para avaliar se há gastos do dia a dia que podem deixar de existir ou serem reduzidos em seu orçamento mensal, isto permitirá acumular recursos ou ampliará sua capacidade de poupança.

Para aquisição imediata, você poderá optar por um financiamento imobiliário. Neste caso, possuir no mínimo 20% do valor do imóvel como entrada facilitará o financiamento junto a um banco. Você poderá utilizar parte ou o total do saldo do seu FGTS para compor a entrada, desde que a operação atenda às regras definidas pelo órgão regulador. A título de exemplo, caso tenha em torno de 35 anos de idade e financie um imóvel de R$ 500 mil por 30 anos com R$ 100 mil de entrada, você pagará prestação inicial aproximada de R$ 3.800,00 a uma taxa efetiva de 7,85% a.a. mais a taxa de referência (TR), que atualizará seu saldo devedor anualmente. Alugar um imóvel deste valor com 65 m² na Zona Sul de São Paulo pode variar de R$ 1.200,00 a R$ 3.000,00, chegando a um preço médio de aluguel de R$ 2.100,00. Uma diferença de quase 80% a mais neste exemplo entre prestação de financiamento e preço médio de aluguel.

Se o objetivo de adquirir o imóvel for de médio e longo prazo, você poderá se planejar melhor e usufruir de vantagens financeiras no custo total a ser pago, considerando a possibilidade de não pagar juros. Neste caso, tanto o consórcio imobiliário quanto acumular recursos em aplicações financeiras podem ser avaliados como opções para a compra de um imóvel.

Participar de um grupo de consórcio permitirá acumular recursos para a compra do imóvel sem a cobrança de juros. Mediante o pagamento de uma prestação mensal, você adquire uma cota e, junto com os demais participantes do grupo, terá a possibilidade de ser contemplado com uma carta de crédito. O somatório do que foi arrecadado com os cotistas do grupo custeia os contemplados no mês, ou seja, pode-se pagar a prestação, incluindo custos mensais como taxa de administração, fundo de reserva e seguros; e disponibilizar através do grupo o imóvel para alguém que você não conhece.

Os custos envolvidos são menores quando comparados com um financiamento no mesmo prazo e valor. Em algumas opções disponíveis no mercado, paga-se ao final em torno de 20% a mais do que se obteve de crédito para a compra do imóvel. Em um financiamento imobiliário, este percentual de 20% de juros pode ter sido pago já durante o segundo ano de contrato.

O lado negativo de uma carta de consórcio é que a possibilidade de ter acesso ao crédito por sorteio poderá acontecer tanto no primeiro mês de pagamento como no último. Este fato pode se tornar um problema caso pagar aluguel e parcela da carta de consórcio comprometa o seu orçamento. Há possibilidade de antecipação do crédito através de lances com recursos próprios, com o FGTS e até usando parte do valor da carta.

A terceira opção seria acumular recursos em aplicações financeiras de perfil conservador até poder comprar o imóvel à vista. Neste caso, há flexibilidade de poder aumentar ou diminuir o valor mensalmente de acordo com seu orçamento, contudo será importante se manter disciplinado ao aplicar regularmente. O recurso poderá ser aplicado em fundos de investimento, em títulos públicos federais e em produtos de tesouraria de bancos como: CDB, LCI e LCA. A rentabilidade das aplicações financeiras agregará no volume final, aumentando o valor líquido que será resgatado. Mas será importante ter liquidez nestas aplicações para poder resgatar o recurso imediatamente ao alcançar o valor estipulado caso surja uma oportunidade porque poderá ser utilizado como entrada em um financiamento imobiliário. Há também a vantagem de mudar de ideia e, permanecendo no aluguel, utilizar o valor acumulado direcionando para outro objetivo.

Nas três possibilidades abordadas, financiamento, consórcio e acumulação de recursos, será de muita valia ter constituído, antecipadamente, uma reserva financeira de emergência, que esteja disponível para resgate imediato. Será uma segurança para não comprometer seus objetivos caso aconteça algum imprevisto que leve a gastos inesperados. Ficar inadimplente em um financiamento, cancelar uma cota de consórcio antecipadamente ou resgatar os recursos que você estava acumulando para a compra de um imóvel poderá ser frustrante e comprometer seu planejamento financeiro como um todo.

Orlando Niegski Neto é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site EpocaNegocios.globo.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 17 de outubro de 2018

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