Pensando no carro como investimento, ainda vale a regra de trocar o veículo todos os anos?
Não é comum que o proprietário obtenha ganhos na revenda de um carro, explica especialista. Pensando nisso, veja qual é a melhor estratégia financeira na hora de decidir trocar de veículo
Por Caio Parreira Leal, CFP® responde:
Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que investimento é a aplicação de um recurso (dinheiro ou títulos) com expectativa de receber retorno futuro superior ao aplicado, compensando a perda de uso desse recurso durante o período de aplicação (juros ou lucros). Sendo assim, o primeiro ponto que você precisa endereçar é se a compra de um carro se enquadra ou não no critério de “investimento”.
Afinal, carro é considerado investimento?
O conceito de investimento está ligado à ideia de obter um retorno financeiro sobre o montante aplicado. Pode ser no curto, médio ou longo prazo, mas quem está disposto a investir tem a expectativa de obter lucro no futuro.
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O problema é que, na maioria das vezes, não há lucro (retorno positivo) na aquisição de um automóvel para uso próprio, pois o carro sofre depreciação em razão do desgaste natural de suas peças. Pode até ser que ocorra lucro no caso de um veículo bem cuidado, mas não é comum o proprietário obter ganho na revenda de um carro.
Dessa forma, pode-se concluir que a compra de um carro não se enquadra como um investimento, mas sim na compra de um bem de consumo com um custo elevado (como uma geladeira ou um videogame).
Contudo, dado o elevado custo de propriedade do carro (que pode representar grande parcela do patrimônio de uma família), deve-se examinar com cuidado, sob a ótica do Planejamento Financeiro, o melhor momento para a troca do carro, de forma a otimizar o gasto familiar.
Manutenção do veículo
Sabe-se o quão importante é cuidar da saúde dos carros, e você pode considerar o investimento nessa parte tão importante, ainda mais pensando que os reparos necessários podem ser pequenos e rápidos. Um bom exemplo disso é quando você acaba riscando a pintura do veículo ou a lataria do carro acaba amassando com uma chuva de granizo. Um carro bem cuidado pode fazer com que você consiga um valor maior quando for vender o veículo mais tarde.
Um fator importante que deve ser levado em consideração para que você verifique o momento ideal para a troca do carro diz respeito ao fim do prazo de garantia. Quanto mais você fica com um carro após o término da garantia, mais ele começará a pedir manutenções onerosas. Será necessário, ao longo dos anos, trocar os pneus, amortecedores e etc. Uma série de coisas que não são baratas. Assim, em carros com cinco a dez anos de uso, o percentual que você gasta com manutenção vai praticamente dobrar, alcançando algo em torno de 4% do valor do veículo.
Então, quando devo trocar de carro?
Existem certas situações em que trocar o veículo pode ser uma boa saída. Ainda mais se for por um novo. Como foi dito acima, o carro pode não ficar original depois dos consertos e se tornar obsoleto.
Antes de tudo, podemos começar nossa investigação com uma dúvida que parece até meio óbvia: existe prazo de validade para carro? A resposta é não, pois, com a ampliação dos prazos de garantia para três ou até cinco anos, os carros não se tornam obsoletos e são muito bons em confiabilidade e durabilidade. Com exceção dos itens consumíveis, como óleo, pneus, pastilhas, entre outros, os demais componentes de um automóvel não contam com um prazo de validade determinado.
Depreciação do carro
Outro fator que deve ser considerado é a desvalorização que os veículos normalmente sofrem. Assim sendo, o motorista precisa avaliar todos esses fatores e decidir se vale a pena trocar de carro ou investir em reparos no atual. Lembre-se: ao sair com o carro da concessionária ele já perde em torno de 10% de seu valor.
Custos com financiamento: é um problema?
Depois, lembre-se de que, ao financiar seu carro, você irá pagar juros e taxas do financiamento e, com isso, o valor real do carro aumentará! Dependendo do prazo de financiamento o valor do bem pode aumentar algo em torno de 20% a 50%.
Tendo isso em mente, uma dica valiosa é realizar uma reserva financeira, e só então pensar em substituir seu veículo. Se você comprar um carro hoje, o ideal é que você destine uma parte do seu orçamento familiar para a troca do seu carro. Com isso, ao longo de quatro a cinco anos (prazo médio das garantias), você consegue comprar um carro novo na mesma faixa de valor e evitando custos de financiamento.
Um bom planejamento financeiro envolve a análise criteriosa dos riscos e custos das operações financeiras. Colocou tudo na ponta do lápis? Então procure um planejador financeiro e invista no seu sonho!
*Caio Parreira Leal é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado na Revista Época em 23 de Maio de 2023.