Planejamento é fundamental para quem está endividado
Estou endividado, o que devo fazer?
Karoline Roma Cinti, CFP, com a colaboração de Fagner Marques, responde:
Caro Leitor,
Agradeço por ter escrito. Essa é uma questão muito recorrente na minha atuação como planejadora financeira pessoal, que independe de renda, idade ou escolaridade dos clientes. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias com dívidas cresceu de 57,5%, em janeiro de 2015, para 61,6%, em janeiro deste ano. Esses dados mostram a relevância da sua questão.
O primeiro passo para sair das dívidas é entender a situação e assumir a responsabilidade sobre ela. Faça uma lista de todas as dívidas, com informações referentes ao valor da parcela, prazo, taxa de juros e saldo devedor atualizado.
É de praxe os especialistas recomendarem que se inicie eliminando as dívidas mais caras, isto é, com juros mais altos, como as dívidas de cartão de crédito e cheque especial. Elas crescem em uma velocidade considerável e viram uma bola de neve. Além dessa recomendação, é importante levar em consideração outros pontos.
Algum patrimônio está em risco de perda? Algum serviço essencial está em risco de corte? Há riscos de integridade moral, quais as consequências de ter o nome no cadastro de inadimplentes? Ou ainda, qual o custo emocional de não conseguir pagar um familiar ou amigo?
Essa decisão é bastante pessoal e deve ser tomada pelo próprio endividado, se possível com a ajuda de um planejador financeiro, pois ele tem conhecimento técnico e não está envolvido emocionalmente com a questão. Sempre lembro meus clientes para não tomarem nenhuma decisão precipitada, sem antes avaliar o todo.
Será necessário reduzir custos e/ou gerar renda extra. A análise do fluxo de caixa é essencial para a família conseguir identificar quais são suas necessidades diárias e se a renda é ou não suficiente para isso. A sobra de caixa será a base para a criação do plano de ação. O ideal é que o endividado consiga renegociar todos os seus créditos dentro de parcelas que caibam no orçamento.
O patrimônio também pode ser considerado para o pagamento das dívidas, seja usando como garantia para conseguir linhas de crédito com juros baixos e parcelas compatíveis com o fluxo de caixa, sem a necessidade de se desfazer do bem, ou com a venda, em que se resolve a situação de forma rápida e volta a poupar.
Seja qual for a estratégia escolhida, o equilíbrio do fluxo é fundamental para cumprir o plano e não voltar às dívidas. E, mesmo durante esse processo, o orçamento deve ser planejado prevendo uma sobra de caixa mensal para formação da reserva de liquidez, que pode evitar um novo endividamento no caso de imprevistos.
Por último, vale uma reflexão sobre a origem do endividamento: se foi a partir de um imprevisto; se após um momento de transição, como casamento e filhos; ou se são recorrentes, frutos de escolhas sem planejamento, seja para aquisição de bens ou hábitos de consumo. Essa reflexão ajuda a tomar medidas necessárias para que a situação não se repita no futuro.
Vale destacar que a diferença que existe entre uma pessoa na posição de endividado para investidor é o tempo. Dependendo de suas escolhas e comportamento em relação ao dinheiro. Dívidas são temporárias e o valor comprometido na sua renda hoje com parcelas, no futuro estará disponível. Além disso, o crédito pode ser uma alternativa para construção de patrimônio, se feito com planejamento. Por isso, aproveite esse momento para definir seus sonhos e objetivos e fazer escolhas coerentes com seus valores e planos.
Karoline Roma Cinti é planejadora financeira pessoal e possui certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). E-mail: [email protected]
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 11 de julho de 2016.