Por que o IPCA parece menor do que alta de preço no orçamento?
“No noticiário, a inflação aparece sob controle, em queda, mas parece que não é a mesma quando olho para o meu orçamento. Sinto sempre que as coisas tiveram um aumento maior do que o noticiado, o que eu estou fazendo de errado?”
Paula Sauer, CFP®, responde:
Você leitor não está fazendo nada de errado, muito pelo contrário, você está com a percepção bastante afinada em relação ao cenário econômico e a sua realidade.
O que acontece é que existem no Brasil alguns institutos de pesquisa e universidades que calculam a inflação e cada deles parte de um pressuposto, um método, um modelo de cálculo, e determinados itens são considerados na cesta de consumo. Cuidando do seu orçamento, você acabou de perceber a sua inflação pessoal.
No Brasil, dois indicadores são tidos como oficiais para reajustes de preços, de aluguéis, dos planos de saúde, dos investimentos, reajuste das mensalidades escolares, do salário mínimo, por exemplo.
Um deles é o IPCA que é um índice que mede a variação de preços de mercado para o consumidor final. Estabelecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mensalmente, ele representa o índice oficial da inflação no Brasil, e é utilizado pelo Banco Central para monitorar a inflação. É um bom termômetro para avaliar perdas no poder de compra.
Esse índice tem por objetivo medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo das famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos e de 13 áreas urbanas no país. Sua coleta estende-se, em geral, do dia 01 a 30 do mês de referência.
É feita uma lista de produtos e serviços e seus pesos são ponderados com o objetivo de se chegar a uma inflação média considerando esses itens. Como consumidor, você pode notar que, quando os preços nas prateleiras do supermercado aumentam, o índice sobe.
Cada item possui uma inflação própria, que está associada à sua oferta, demanda e sazonalidade — essa já é uma média ponderada pelas regiões no Brasil. Olhe a sua lista de compras mensal e observe quais itens teve a maior variação de preço em relação à última compra que você efetuou.
Digamos que a maior variação de preços tenha sido em alimentos: dentro dela, há desde os industrializados aos hortifrúti, que estão na safra e na entressafra. Têm aqueles que eventualmente estão bem caros, como o feijão e o tomate, em função de fatores climáticos, entre outros, mas você não deixa de comprar porque está habituado a consumi-los.
Juntando a inflação dos itens que fazem parte da sua cesta de consumo, você chegará a sua inflação pessoal. Veja se é possível substituir alimentos que estão mais caros, pelos alimentos que estão na safra. Esses estarão mais frescos e com preço mais competitivo, uma vez que terão uma maior oferta.
O segundo indicador de inflação oficial no Brasil, é o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE). O IGP-M também registra a variação de preços do mercado, mas os bens e serviços que compõem sua carteira diferem do índice anterior, assim como a data de coleta e abrangência da pesquisa. Ele engloba desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens e serviços finais. Para esse índice, o mês de referência vai do dia 21 do mês anterior até o dia 20 do mês atual. São considerados artigos como vestuário, transporte e comida. Para você ter uma ideia da importância desse indicador, é a partir dele que são reajustados alguns contratos como os de aluguel ou tarifa de energia elétrica.
Você pode acompanhar sua inflação observando a variação mensal dos preços que fazem parte da sua cesta de consumo e, para reduzir sua inflação pessoal, identifique a sazonalidade de oferta dos produtos, saiba que quanto menor a oferta e maior a demanda, maior o preço.
Compre alimentos que estão na safra. Mantenha-se atento à flutuação dos preços da sua cesta e veja se é possível substituir, ou diminuir, o consumo de produtos que eventualmente estejam com preços mais altos por outros mais baratos.
Paula Sauer é planejadora financeira e possui certificação CFP (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].
Texto publicado no jornal Valor Econômico em 29 de julho de 2019.