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Por que os planos podem falhar

José está quebrando a cabeça tentando entender por que está todo encrencado, cheio de contas para pagar, com o orçamento estourado, apesar de todo o planejamento que fez.

Quando ele e Maria decidiram realizar o sonho de comprar a casa própria, fizeram tudo com calma, planejando cada passo que seria dado: a definição do tipo e localização do imóvel, o valor do imóvel pelo qual seriam capazes de pagar, as economias para a entrada, o financiamento imobiliário e o mais difícil, os ajustes que fariam no orçamento para acomodar a prestação do empréstimo que viabilizaria a compra do imóvel.

Talvez esse tenha sido o erro do casal, planejaram somente a etapa que antecede a compra e, felizes, com a chave da casa própria em mãos, descobriram que se esqueceram ou subestimaram os detalhes que estavam por vir.

Deixaram de incluir no planejamento da compra os custos da documentação relativa à compra e ao registro, cerca de 5% do valor do imóvel, devidos na assinatura do contrato. Para resolver essa demanda, contrataram um empréstimo consignado, o mais barato disponível no mercado, no valor de R$ 15 mil, para pagar em 60 parcelas de R$ 600 cada uma.

Para completar as economias que tinham, insuficientes para a entrada, venderam o carro, imaginando que poderiam passar uns tempos sem ele. Mas José aceitou a oferta de um novo emprego e precisa de um carro para esse trabalho. Comprou um carro básico, inferior ao que tinha antes, financiado em 60 meses. Assim, um novo compromisso mensal de R$ 1.000 foi adicionado ao orçamento da família.

Encantados com a casa nova, não resistiram à tentação de deixá-la bonita e prática. Para pagar os indispensáveis armários para a cozinha e outras coisinhas mais, fizeram um novo empréstimo consignado de R$ 20.000, adicionando mais uma prestação de R$ 800. “Vai ficar apertado agora, mas daremos um jeito”, pensaram.

Os móveis antigos não cabem no bonito, mas pequeno apartamento, e logo decidiram que a casa nova merecia móveis novos. Adicionaram ao já apertado orçamento a prestação do carnê, mais R$ 600 por mês.

Também falharam no planejamento da compra do carro, ao provisionar somente a prestação do financiamento, maior despesa, mas não a única. O custo da posse de um carro vai muito além disso.

Como imaginaram que ficariam sem o carro, não previram no orçamento familiar as despesas de seguro, IPVA, combustível, estacionamento, pedágios etc. Embora o salário de José tenha aumentado em relação ao anterior, o valor da renda líquida diminuiu depois de descontadas as despesas totais do carro.

Como a reserva financeira que tinham foi totalmente utilizada para a entrada da compra do imóvel, qualquer despesa extraordinária ou imprevista, e convenhamos, são muitas, os obriga a recorrer ao parcelamento do cartão de crédito e ao uso do cheque especial quase todos os meses. Ainda bem que eles têm crédito na praça, mas já sabemos como essa história termina, não é verdade?

Recomendo revisitar dois artigos publicados em maio: “Casa própria, um sonho possível” e “Quem planeja tem futuro”. Ambos contribuem para a reflexão da importância e da necessidade de um bom e trabalhoso planejamento.

A dica da coluna de hoje é prestar mais atenção aos detalhes. As pequenas despesas, muitas vezes ignoradas ou subestimadas, se agigantam quando são somadas e adicionadas às grandes despesas que foram objeto do planejamento. Como diz o ditado, o diabo mora nos detalhes.

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 22/06/2020.

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