Diferenças de previdência com a tábua AT 2000 e BR-EMS
“Tenho um plano de previdência aberto com a tábua AT 2000 e recebi uma proposta para migrar o meu plano para outra previdência com a tábua BR-EMS. (Pretendo no futuro transformar o meu plano em renda). Gostaria de saber quais são as diferenças. ”
Maristela Gorayb, CFP®, responde:
Caro(a) Leitor(a),
Antes de apresentar as diferenças, é importante explicar o que é “tábua” neste contexto e para que serve. Trata-se de Tábua Atuarial, uma tabela em que constam as expectativas de morte e sobrevivência em função de idade, observadas a partir de Censos Populacionais. As tábuas AT são baseadas em censos demográficos americanos e a BR-EMS na experiência do mercado segurador brasileiro. Com base nestas expectativas de sobrevivência é possível calcular obter os fatores atuariais usados para calcular o valor de uma renda vitalícia.
Considerando o aumento da longevidade, as tábuas atuariais mais recentes, como é o caso da BR-EMS, apresentam uma expectativa de vida maior e, portanto, o valor da renda vitalícia calculado é reduzido, uma vez que será paga por mais tempo.
Uma maneira fácil de entender a diferença entre as tábuas atuariais é por meio de números. Comparando a renda mensal vitalícia para um homem aos 65 anos de idade hoje, com um saldo de R$1.000.000,00 (um milhão de reais), encontramos o valor de R$4.272,63 calculado pela AT-2000 e R$ 3.984,36 calculado pela BR-EMS (ambos sem juros garantidos).
Outra diferença importante entre as 2 tábuas atuariais é que a BR-EMS é versionada. Isto significa que a cada 5 anos a expectativa de vida do momento é utilizada para atualização da tábua e será sempre usada a versão mais recente para o cálculo quando da transformação do saldo em renda. A BR-EMS foi criada em 2010, atualizada em 2015 e a próxima atualização será no ano que vem.
É importante saber que em previdência aberta, por restrição regulamentar, não pode haver mudança de tábua atuarial em planos já contratados. Ou seja, a pessoa que contratou um PGBL ou VGBL com AT-2000 terá essa condição garantida pelo resto da vida, o que é uma vantagem. Mas, uma vez feita a portabilidade para um outro plano e cancelado plano de inicial, é possível que não consiga mais voltar ao plano antigo para reaver a condição.
Naquele exemplo, a AT-2000 proporciona uma renda maior que a BR-EMS, calculada sobre um mesmo saldo e sem juros garantidos. No entanto, maior ainda que o impacto da expectativa de vida no cálculo da renda é a taxa de juros garantida. Os cálculos foram feitos considerando juros zero, o que significa que a seguradora não está beneficiando o cliente com possíveis ganhos financeiros a serem obtidos com aquele saldo no mercado financeiro.
No quadro a seguir é possível ver a diferença significativa que existe na mesma situação anterior, com taxas de juros garantidos:
Tábua Atuarial | +0%a.a. | +2%a.a. | +3%a.a |
AT 2000 (male) | R$ 4.272,63 | R$ 5.342,68 | R$ 5.910,78 |
BR-EMS (male) | R$ 3.984,36 | R$ 5.037,94 | R$ 5.532,10 |
Observe que a renda calculada hoje pela BR-EMS+2%a.a. é maior que a calculada pela AT-2000+0% de juros. Portanto, é importante saber qual a taxa de juros garantidos no seu plano. Neste cenário, considere ainda quanto tempo falta para você transformar seu saldo em renda. Lembre-se que a cada próximo versionamento da BR-EMS, em 2020, 2025 e etc., tudo indica que a expectativa de vida aumentará e, consequentemente, refletirá em uma gradual redução nos futuros cálculos.
Espero ter esclarecido a diferença entre as tábuas e recomendo que você considere sim esta condição, bem como os juros garantidos, já que pretende transformar seu saldo em renda. Mas, para tomar uma decisão de qual o melhor plano para você, outros fatores conjuntamente devem ser considerados, como: carregamento, taxa de administração e performance histórica dos fundos atrelados aos planos.
Maristela Gorayb é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 20 de janeiro de 2020